Estudo realizado por pesquisadores da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do RiovGrande do Sul (UFRGS), concluiu que adultos brasileiros que possuem este atose hepática popularmente chamada de gordura no fígado, têm 30% mais risco de desenvolverem diabetes tipo 2.
Os resultados têm como base o estudo chamado ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), que avaliou 8.166 adultos (servidores públicos ou aposentados), com idades entre 35 e 74 anos, de seis capitais do Brasil. Os voluntários foram seguidos por cerca de 3,8 anos. Foram excluídosos participantes com diabetes nobinício do estudo, aqueles que relataram consumo excessivo de álcool com hepatite ou cirrose. Os resultados foram publicados nos Cadernos de Saúde Pública.
A esteatose hepática é o acúmulode gordura no figado que pode,com o passar do tempo, causaruma inflamação crônica e danos notecido hepático. Normalmente éuma situação benigna, mas semcuidados e na sua evolução elapode induzir à fibrose do fígado(substituição das células normaisdo fígado por tecido fibroso) e atéevoluir para cirrose, inclusive comaumento de risco de câncer.
Estima-se que o problema atinja ao menos 25% da população adulta -na amostra avaliada a esteatose estava presente em 35,5% dos voluntários. Segundo a hepatologista Bianca Della Guardia, coordenadora do Grupo Médico Assistencial de Doenças Hepáticas do HospitalIsraelita Albert Einstein, esse tipo de estudo é muito importante porque no Brasil não temos muitas pesquisas que avaliem a incidênciae prevalência da doença na nossa população.
“Nós imaginávamos uma incidência maior de este ato se no Brasil por questões genéticas quepodem estar relacionadas. Mas esse número é preocupante porque quando falamos da doença hepática gordurosa não gordurosa não alcoólica estamos fazendo uma associação direta com a síndrome metabólica”
DESTACOU DELLAGUARDIA.
A ultrassonografia abdominal foi o exame usado para a detecção da esteatose hepática, mas o diagnóstico também pode ser feito por outros exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética, além de biópsia dofígado. No período de seguimento, a incidência de diabetes foi de 5,25% em todo o grupo de participantes, sendo de 7,83% entre as pessoas com esteatose hepática e de 3,88% naqueles sem aesteatose. Isso significa um risco aumentado de 30% de desenvolver diabetes.
Como é o diagnóstico?
De acordo com a hepatologista, o ultrassom é o primeiro exame que vai apontar a presença da gordura do fígado. Mas, ao constatar o problema, outros exames devem ser realizados. “O ultrassom é um exame sensível, mas precisamos entender se esse paciente tem fibrose hepática, que é a cicatrização do fígado, além da gordura. É essa fibrose que vai determinar prognóstico a médio e a longo prazo.Se a gordura for identificada no ultrassom, esse paciente precisa ser melhor investigado”, alertou a especialista.
A esteatose hepática é uma doença silenciosa e, por isso, é perigosa Segundo a médica, em geral, o fígado não costuma dar sintomasde problemas quando ainda estão na sua fase inicial e com a esteatose não é diferente
“Não existem sinais específicos para a doença. O paciente terá sintomas quando a doença estiver numa situação de cronicidade, quando o fígado começa a darvsinais de falência.Geralmente, sãovsintomas que aparecem numa fase mais tardiada doença, que é tudo que precisamos evitar”
DISSE.
Assim, uma vez constatado oproblema, é preciso tratarimediatamente. “É muitoimportante tratarmos essainflamação precocemente paraevitarmos a evolução para umquadro de falência hepática maisgrave. O exercício físico édeterminante para a diminuição dagordura visceral.Se nós tratamos oexcesso de gordura (a adiposidade),conseguimos segurar a evoluçãodessa inflamação”, explicou oendocrinologista Clayton Macedo,que coordena o Núcleo deEndocrinologia do Exercício e doEsporte do Hospital Israelita AlbertEinstein e o ambulatório de Endocrinologia do Esporte daUniversidade Federal de São Paulo(Unifesp).
Macedo ressaltou que os indivíduosavaliados tinham circunferênciaabdominal aumentada (quetambém é um fator de risco paradiabetes), eram mais obesos,tinham mais dislipidemias e maisnipertensão. “Todos esses sãofatores de risco importantes para cdesenvolvimento de diabetes. Quem tem esteatoseprovavelmente têm maismecanismos de resistência àinsulina, às vezes até alterações deoutros fatores de risco, o quecoabita o cenário de predisposiçãoao diabetes”, ponderou.
Segundo o endocrinologista, essesresultados são essenciais para Odesenvolvimento de políticas desaúde específicas para essepúblico, para o planejamentoestratégias de prevenção e detratamento da esteatose hepáticaMacedo explica ainda que existemalgumas medicações que podemmelhorar o acúmulo de gordura no fígado, mas nenhuma delas com indicação de bula -todas usadasoff label.
Dieta e exercícios
“Hoje o tratamento padrãoindicado é dieta e exercício físico.As medicações usadas tratam asdoenças base [diabetes, obesidade,colesterol] e acabam melhorando,por consequência, a esteatosehepática. O recomendado é trataras comorbidades, aliado a umestilo de vida saudável comatividade física e alimentaçãosaudável”, destacou oendocrinologista.
Macedo reforçou também queatualmente a medicina estátrabalhando com o conceito deMASH (metabolic steatohepatitis-esteatohepatite metabólica)-antes a nomenclatura mais usadaera NASH(nonalcoholic steatohepatitis-esteatohepatite não alcoólica).
“Hoje a ciência tem trabalhado com o conceito MASH para mostrar que fatores metabólicos e não somente o álcool estão fazendo com que o fígado fique doente. A esteatose pode ser controlada, entrando em remissão. Conseguimos melhorar bastante ovquadro com perda de peso,vprincipalmente quando aliada à dieta e ao exercício físico”
FINALIZOU.
Por Fernanda Bassette