Há quase um mês, uma crise climática sem precedes com uma estiagem severa e uma densa fumaça no Amazonas deixam a população respirando um dos ares mais poluídos do mundo. A fumaça só deu trégua graças a chuva no fim de semana. Diante de todo esse cenário é preciso dar, literalmente, nome aos bois.
Essa fumaça densa que cobriu Manaus nos últimos dias tem origem, segundo o IBAMA, nos municípios de Autazes e Careiro Castanho. Ora, as cidades são conhecidas pela agropecuária com grandes fazendas e que respondem por boa parte da produção de leite e carne, respectivamente. Coincidência?
Claro que não, basta olhar os focos de calor nas imagens de satélite para ter uma dimensão da quantidade de queimadas e desmatamento ilegais para aumentar pasto. A Polícia Federal está investigando a fundo e vê indícios de crimes. Esta coluna não quer condenar o agronegócio, afinal gera empregos e dinamiza a economia. Porém, centenas de pequenos produtores perderam tudo com a fogo criminoso, que não respeita propriedades e sai destruindo tudo, como ocorreu em uma comunidade no quilômetro 02 da estrada de Autazes.
A fumaça no Amazonas, que vem sendo persistente em Manaus, traz sérios riscos à saúde.
É preciso que este setor se modernize e pare de usar o fogo como elemento de ampliação das áreas de pastagem. Também é urgente que se aumente o cerco contra queimada ilegal e que os responsáveis sejam punidos conforme a lei, principalmente se a queimada for identificada em grandes fazendas. O mundo está de olho no Amazonas por conta da grave crise ambiental que vivemos.
Fumaça no Amazonas
Parte do agronegócio brasileiro já sente a pressão internacional por sustentabilidade e é bom que os próprios empresários ajudem a combater os grandes latifundiários irresponsáveis que ainda usam o fogo para ampliar pasto, sob pena de que grandes mercados, como o europeu, deixem de comprar carne brasileira por uso de áreas com desmatamento ilegal. Não é mais aceitável que o agro ignore a ciência. Estudos do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) já mostram, há mais de uma década, que não é preciso desmatar um hectare na Amazônia para produzir alimentos.
Parlamento inerte, para variar
E na semana que o Amazonas foi tomado pela fumaça, deputados estaduais e vereadores da Câmara Municipal de Manaus resolveram dar mau exemplo de representatividade. Na Câmara, os vereadores se alongaram nos discursos da guerra no oriente médio que envolve o impasse histórico entre Israel e a Palestina. É óbvio que era preciso condenar os ataques terroristas do Hamas, mas por qual motivo esse assunto tomou tanto tempo dos parlamentares diante da crise climática em Manaus? Na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM), o deputado estadual George Lins (UB) achou que era uma boa hora para ir à Alemanha fazer curso sobre digitalização e democracia. Só em diárias bancadas com dinheiro público, Lins recebeu R$ 18 mil.
Ei eleitor, você também precisa cobrar!
A emergência climática que atinge o Amazonas escalou para níveis mais preocupantes, na última semana. É sempre bom se perguntar sobre o que o deputado e o vereador que você votou na última eleição está fazendo a respeito. Mesmo com a gravidade da crise, as duas casas pararam normalmente suas atividades no feriadão. Uma crise histórica devia exigir um engajamento da Aleam e da CMM, com gabinetes de crise, definição de ações políticas estratégicas e quem sabe até um pacote de leis que pudesse garantir que o cenário não se repita ano que vem. Até agora, o parlamento está devendo uma boa justificativa para a sociedade.
Exceção
Um dos poucos parlamentares que se manifestou sobre as queimadas foi o deputado Dan Câmara (Podemos), que pediu a ampliação de contingente do Corpo de Bombeiros. Para ele, o agravamento das queimadas desde 2015, com a cobertura da capital e de cidades do interior pela fumaça, e a piora significativa sofrida nos últimos anos nos focos de incêndio, justificam a urgência de uma ampliação da tropa. Já a deputada Joana Darc viajou até Autazes para acompanhar o resgate de animais mortos e feridos durante as queimadas no município.
Prefeitos torram dinheiro público em meio à crise
Nem mesmo a maior seca da história parece impedir que prefeitos de oitos cidades do interior do Amazonas gastem dinheiro público com shows milionários para bancar atrações nacionais. De acordo com o site Amazonas Atual, das contratações divulgadas pelas prefeituras, os cachês dos cantores já somam quase R$ 2 milhões. Chama a atenção a situação de dois municípios: Manacapuru (a 100 quilômetros de Manaus) e Tabatinga (a 1.100 quilômetros da capital) que pagaram, somados os cachês, cerca de R$ 1 milhão para o cantor Zé Vaqueiro.
Articulação de Wilson
O governador Wilson Lima (UB) conseguiu, junto a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o apoio para a chegada de mais brigadistas que desembarcaram neste domingo (15/10), em Manaus, para ajudar no combate às queimadas ilegais que geram a fumaça. “Acabamos de receber o reforço de 65 brigadistas e equipamentos, enviados pelo Ministério do Meio Ambiente, para ajudar nossas equipes no combate às queimadas. Agradeço à ministra Marina Silva e o Governo Federal por atenderem nosso pedido e nos ajudarem nesse enfrentamento”. Na vinda de Marina na semana passada, Lima apostou no diálogo ao invés do enfrentamento e colhe os frutos disso agora. Como dissemos semana passada, política é diálogo.
Força Nacional
Lima também anunciou a vinda de homens da Força Nacional para reforçar o combate às queimadas após conversa com o ministro da Justiça, Flávio Dino. Eles vão se juntar ao efetivo local. Na semana passada, 64 servidores, 16 viaturas e duas aeronaves reforçaram o trabalho de combate aos focos de incêndio na região de Autazes e ao longo da BR-319.
Incêndios criminosos
O secretário de Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira, foi enfático ao dizer, neste domingo (15/10), que a maioria das queimadas é criminosa. A fala ocorreu durante a chegada dos 64 brigadistas enviados pelo Governo Federal. Ainda de acordo com o secretário, a região metropolitana ganhará reforço de agentes para coibir a ação de infratores e prevenir que a fumaça das queimadas chegue a níveis elevados como ocorreu na semana passada.
Investigação
O Ministério Público do Amazonas (MP-AM) ajuizou ações para condenar prefeito e agentes políticos de Urucurituba. O município custeou passagens, diárias e inscrições de todos os vereadores, secretários e outros agentes públicos locais para participação na XXIV Marcha a Brasília/DF em Defesa dos Municípios.