Uma guerra entre forças militares dos Estados Unidos e Venezuela poderá ter consequências imprevisíveis para Roraima e Amazonas, destino natural de migrantes venezuelanos desde 2018, quando no governo de Michel Temer foi criada a Operação Acolhida, mantida pelo Exército Brasileiro.
A tensão entre os dois países chegou a níveis máximos nessa semana quando o presidente Donald Trump confirmou que autorizou a CIA, o serviço secreto dos EUA, a promover operações para tirar Nicolas Maduro da presidência venezuelana.
Uma atitude dessa não acontece desde os anos 80 do século passado, quando George Bush deu a mesma autorização para a CIA agir contra o governo do Panamá, com o objetivo de tirar do poder o ditador Manoel Noriega, que assim como Maduro, era acusado de liderar um cartel de narcotraficantes.
O clima de beligerância começou a escalar em agosto, quando três navios, o USS Gravely, o USS Jason Dunham e USS Sampson, passaram a atuar em águas internacionais em frente ao litoral venezuelano. Em resposta, Nicolas Maduro convocou a apresentação de 4,5 milhões de milicianos para serem armados e treinados pela Guarda Bolivariana, um dos ramos das forças armadas do País vizinho.
Os envio dos navios foi o terceiro ato de hostilidade adotado pelo governo de Donald Trump contra o regime de Maduro. Inicialmente ele aumentou para US$ 50 milhões o valor da recompensa para quem fornecer informações que levem a captura do venezuelano.
Posteriormente, o secretário de Estado, Marco Rúbio, classificou o regime venezuelano de narco-terrorista, categoria que pode levar os EUA a intervirem militarmente no País.
Com esse estágio de beligerância, com navios superequipados para guerra em águas internacionais com a missão de quebrar rotas do narcotráfico e dez mil militares de prontidão, uma invasão militar da Venezuela não está descartada e o Brasil acompanha essa situação preocupado com um eventual fluxo migratório que iria impactar Boa Vista (RR) e Manaus.
Conforme um militar que trabalha na Operação Acolhida em Manaus, ouvido sob sigilo, são “internalizados” aproximadamente 500 venezuelanos a cada dia na sede da operação, que funciona no pátio da Secretaria de Administração (Sead).
No geral, a operação contabiliza que 5.379 venezuelanos foram realocados em Manaus desde 2018, isso porque muitos dos internalizados tomam outros rumos após conseguirem os documentos de cidadania na capital amazonense.
No pico da migração, este militar estima que 20 mil venezuelanos viviam em Manaus, um número que pode explodir, conforme ele, num eventual conflito militar na região.