MudanƧas tĆ©cnivas referentes ao repasse do piso salarial da enfermagem foram implementadas. O MinistĆ©rio da SaĆŗde publicou a Portaria GM/MS nĀŗ 1.677, de 26 de outubro de 2023, que altera a Portaria GM/MS nĀŗ 6, de 28 de setembro de 2017, sobre a regulamentação dos salĆ”rios. A partir de agora, caberĆ” Ć Secretaria de GestĆ£o do Trabalho e da Educação na SaĆŗde (SGTES) a operacionalização do repasse da assistĆŖncia financeira complementar da UniĆ£o.Ā
A revisão justificada das informações relativas a meses anteriores, ou seja, meses que jÔ tiveram o repasse efetivado através de transferência fundo a fundo, também teve alteração. A solicitação agora deve ser feita pelos entes federados junto à SGTES/MS. De acordo com o Ministério da Saúde, a solicitação poderÔ ser realizada até o dia 15 de cada mês, sendo o resultado implementado até o final do mês subsequente ao da deliberação.
Conforme a portaria, o repasse das duas parcelas no mês de novembro serÔ referente ao respectivo mês de competência e ao complemento para pagamento do 13º salÔrio ainda no ano de 2023.
Após ser aprovado pelo Congresso Nacional, o piso da enfermagem continua na pauta de discussƵes entre governo federal, municĆpios e hospitais privados. Em 4 de agosto de 2022, a lei n.° 14.434 estabeleceu um valor mĆnimo de salĆ”rio para enfermeiras, tĆ©cnicas em enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiras em todo o paĆs. Posteriormente, a Emenda Constitucional n.° 127/2022 determinou que caberia Ć UniĆ£o prestar assistĆŖncia financeira complementar aos estados, municĆpios, Distrito Federal e entidades filantrópicas. A advogada especialista em direito trabalhista, Camila Andrea Braga, explica que o debate existe hĆ” anos no Brasil.
āA questĆ£o da reivindicação em relação ao piso salarial para a categoria de enfermagem jĆ” Ć© bem antiga, atĆ© porque a lei que regulamentou o exercĆcio da enfermagem profissional Ć© de 1955 e nĆ£o previa um piso salarial para a categoria de enfermagemā. A especialista ainda destaca. āO pleito ganhou forƧa maior durante a pandemia de Covid-19, em que se evidenciou a importĆ¢ncia e a relevĆ¢ncia desses profissionaisā, avalia.
Mediação TST
Uma reuniĆ£o entre representantes dos trabalhadores e empregadores do setor privado foi marcada para o dia 7 de novembro para tentar definir o ajuste salarial da categoria. Após mediação do TST ā solicitada pela Confederação Nacional de SaĆŗde, Hospitais e Estabelecimentos e ServiƧos (CNSaĆŗde) ā, duas reuniƵes unilaterais foram feitas e nenhum acordo aconteceu sobre o pagamento do reajuste.
Para o advogado especialista em direito do trabalho Donne Pisco é importante que ambas as partes encontrem uma solução o quanto antes para evitar qualquer repercussão a respeito da empregabilidade ou com relação ao incremento dos custos setoriais que a aplicação do piso representa.
āA aplicação ficou condicionada Ć negociação prĆ©via conduzida pelas entidades sindicais, a fim de que fosse discutida a aplicação do piso salarial e consideradas as implicaƧƵesā, observa.
Em nota, o TST informou que as partes estão dispostas ao diÔlogo e querem encontrar uma solução que atenda aos interesses das categorias. A CNSaúde ficou de apresentar uma proposta concreta aos trabalhadores até o dia 6 de novembro, véspera da próxima reunião.
JĆ” a CNTS e a FNE, por sua vez, ressaltaram que vĆ£o continuar o processo de negociaƧƵes, sem prejuĆzo dos acordos coletivos em andamento nos estados. Cada unidade da federação tem se manifestado de forma distinta contra o nĆ£o-pagamento. As duas audiĆŖncias foram acompanhadas pelo MinistĆ©rio PĆŗblico do Trabalho (MPT).
Impasse
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) entende que a aplicação integral do piso salarial em todo o território nacional é necessÔria. Na opinião do vice-presidente da instituição, AntÓnio Marcos, é preciso resolver esse impasse o quanto antes.
āSe coloca uma sĆ©rie de dificuldades, inclusive para exercĆcio profissional, quando demite tĆ©cnico, quando demite enfermeiro, indo na contramĆ£o daquilo que a gente imagina que Ć© o reconhecimento do profissional com piso, mas Ć© revertido isso tudo numa melhoria da qualidade da assistĆŖncia Ć população brasileira. Os principais entraves se encontram aĆā, analisa.
A Confederação Nacional de MunicĆpios (CNM) demonstra preocupação com a nĆ£o-inclusĆ£o do recolhimento de encargos patronais. Segundo a entidade, isso poderia trazer mais desequilĆbrio nos municĆpios, em especial nas localidades mais pobres. Conforme estimativas da CNM, realizadas em setembro de 2022, do impacto global de R$ 10,5 bilhƵes, ao menos 24% (R$ 2,5 bilhƵes) seriam pagamentos das prefeituras a tĆtulo de encargos patronais.Ā