O dia 24 de outubro, quando Manaus completa 355 anos, também celebra outra data: é o Dia do sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), primata que é mascote oficial da cidade, endêmico do estado do Amazonas e ameaçado de extinção. Mas, a cada aniversário da cidade, os protetores deste pequeno e carismático primata da família Callitrichidae, que vive em partes dos municípios de Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara, têm menos motivos para comemorar.
O sauim só ocorre numa pequena área de aproximadamente 8.000 km² e o avanço das áreas urbanas e rurais desses municípios sobre a floresta cria um processo dinâmico e acelerado de perda e fragmentação do habitat da espécie. Assim, muitos sauins acabam morrendo, enquanto outros ficam ilhados em fragmentos de florestas, cercados por prédios, condomínios e/ou plantações.
Para continuarem sobrevivendo, muitos são obrigados a se deslocar por essas áreas urbanizadas em busca de abrigo e alimentos, onde acabam vítimas de atropelamentos, eletrocussão e ataques de cães. Como resultado desses impactos provocados pelas ações humanas, temos o agravamento da situação de conservação da espécie.
Diante desse cenário dramático, o sauim foi categorizado como criticamente ameaçado de extinção, tanto na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) como na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Essa é a categoria na qual as espécies enfrentam o mais alto risco de extinção na natureza. A situação da espécie é tão grave que, recentemente, ela foi incluída na lista dos 25 Primatas mais Ameaçados do Mundo (2018-2020), criada pela IUCN, Sociedade Internacional de Primatologia e Rewild.
Para mudar essa realidade, o Instituto Sauim-de-Coleira (ISC), uma Organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos, reúne os mais renomados cientistas das áreas de primatologia, ecologia, gestão, conservação ambiental e educação para buscar soluções para a conservação da espécie. Desde 2019, o ISC desenvolve atividades de pesquisa científica, conservação, educação e articulação de políticas públicas para a proteção do sauim-de-coleira e de seu habitat, contribuindo para uma Amazônia ambientalmente saudável, economicamente próspera e socialmente justa. Atualmente, o ISC coordena um estudo interinstitucional financiado pela Re:wild para identificar áreas prioritárias para conservação do sauim, que balizará as políticas públicas para a conservação da espécie.
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“Somos pessoas diversas no conhecimento, experiência de vida, origem, ideologia e formação. O que nos une é a causa, a ansiedade por fazer diferente e a convicção que há outras formas para tirarmos o sauim-de-coleira do caminho da extinção”, explica o presidente do ISC, Maurício Noronha.
“A situação da espécie fica ainda mais grave porque convivemos hoje, no estado do Amazonas, com um ambiente pouco favorável aos esforços de conservação do sauim. Boa parte da população não conhece o primata e ainda perdura no imaginário local a ideia da floresta como extremamente vasta e possuidora de recursos infinitos e a conservação da natureza como um conceito antagônico ao desenvolvimento. Nós precisamos quebrar esses mitos. Essa desinformação dificulta enormemente a implementação de estratégias para a conservação da espécie”, completou Maurício.
Educação ambiental para tentar salvar o sauim-de-coleira
O ISC vem desenvolvendo estudos e ações para promover a conservação do sauim-de-coleira e seu habitat. Uma delas é o Programa Sauim na Escola, que desde 2023 visa sensibilizar sobre a importância da conservação da espécie em escolas localizadas em áreas de influência de Unidades de Conservação onde há ocorrência de sauins.
Em cerca de um ano, o projeto atendeu a mais de 3 mil crianças por meio da realização de dinâmicas de incentivo à leitura e da distribuição gratuita do livro paradidático “O Sauim Isso e Aquilo”. A meta do ISC é ampliar o número de escolas beneficiadas pela iniciativa.
“Nós acreditamos que a educação transforma a sociedade, por isso incentivamos a leitura. E isso é muito importante, especialmente em um país onde 4 entre 10 brasileiros são analfabetos funcionais. Além disso, estamos dando às crianças da periferia a oportunidade de acesso a um bem cultural cada vez mais inacessível: um livro. A nossa intenção é fazer das crianças os futuros embaixadores da conservação do sauim-de-coleira. Depois de sensibilizadas, elas levarão esses conceitos para sua vida pessoal, além dos muros da escola, tornando-se multiplicadores da conservação ambiental”, disse Maurício.
Para ele, a conservação do sauim-de-coleira e do seu habitat é uma forma de promover uma melhor qualidade de vida não só para o primata que é o símbolo de Manaus, mas para todos. “A destruição do meio ambiente tem causado cada vez mais problemas para a própria sobrevivência humana, e espera-se que ações efetivas para a conservação do sauim contribuam para mitigar os problemas ambientais e promover um futuro mais sustentável”, concluiu.