Após registros de mínimas históricas e médias diárias de descidas acentuadas, alguns rios da região amazônica começam a dar sinais de estabilização e sinalizam para o pico da seca deste ano.
É o que indica o 45º Boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Amazonas, divulgado nesta sexta-feira (27) pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). Esse cenário mostra que a seca – já considerada uma das piores da história – pode estar no seu pico, ou seja, nos níveis mais críticos, e tende a atenuar-se nas próximas semanas.
“Estabilizar não quer dizer que os problemas acabaram, mas já é uma ótima notícia em meio a toda essa crise que estamos passando”, esclarece o coordenador-executivo do Sistema de Alerta Hidrológico (SAH) do SGB, Artur Matos.
Um dos rios que em que já é possível observar a estabilização é o Negro, em Manaus. Na quinta-feira (26), o rio chegou à nova mínima histórica, de 12,7 metros. No entanto, não sofreu variações em 24 horas e se manteve nessa marca. Há alguns dias, a média de descida do rio era de 10 centímetros por dia.
O processo de estabilização dos níveis dos rios está relacionado às chuvas nos Andes e na região amazônica, que estão com tendência de aumentar segundo prognósticos climáticos. Com as precipitações, rios menores do Alto Solimões começaram a subir de forma lenta e o impacto é sentido em outros rios gradualmente.
“Observamos a subida do Rio Solimões em Tabatinga, e essa água vem percorrendo o leito do rio, passando por outras localidades e agora está influenciando o nível em Manaus, que apesar de se situar no Rio Negro é bastante influenciado pelo Rio Solimões”.
Outros indicativos de pico da seca
Bacia do Solimões
O Serviço Geológico do Brasil elencou outros fatores que sinalizam para o pico da seca no Amazonas.
“O Alto Solimões saiu da descida diária da ordem de 10 centímetros, passou por fase de estabilidade e hoje apresenta elevações”, explica a pesquisadora em geociências Jussara Cury.
A estação do Rio Solimões em Tabatinga iniciou a semana com subidas, apresentou certa estabilidade e registrou a cota de 1,20 metro nesta sexta (27).
As previsões hidrometeorológicas indicam que, com possibilidade de mais chuvas distribuídas na região, o nível deve continuar a subir nas próximas semanas e iniciar o processo de enchimento.
O rio chegou a atingir a marca negativa de 75 centímetros neste ano – o segundo pior nível da história, atrás apenas do registrado na grande seca de 2010, quando chegou a -86 centímetros.
Em Fonte Boa, o rio apresenta média diária de elevação de 12 centímetros. A cota mais recente registrada é de 10,11 metros. Em Itapéua (PA), o Solimões iniciou a semana com sinais de estabilidade e, nos últimos dias, subiu uma média de 6 centímetros, alcançando a cota de 1,55 metro.
Já em Manacapuru, o rio apresentou diminuição no processo de descida nesta semana, mas ainda registrou níveis baixos e alcançou a cota mínima histórica de 3,11 metros.
Bacia do Rio Branco
A Bacia do Rio Branco, em Roraima, também dá sinais de estabilização. O Rio Branco iniciou esta semana com subidas em Boa Vista (RR), porém voltou a descer nos registros mais recentes e atingiu 1,53 metro. Em Caracaraí (RR), o rio continua em processo de subida, com média diária de 12 centímetros. A cota atual é de 2,21 metros.
Bacia do Amazonas
O Rio Amazonas, nas estações de Itacoatiara, Parintins e Óbidos (PA) apresentou diminuição no processo de descida e voltou a subir em Almeirim – com registro de 2,84 metros.
Parintins registrou a cota de 2,11 metros; Itacoatiara de 38 centímetros e Óbidos de -80 centímetros.
Bacia do Rio Purus
Na estação de Rio Branco (AC), o Rio Acre registrou 1,53 metro e tem apresentado indícios de subida. Neste ano, o rio chegou à marca de 1,37 metro – a quinta pior da história. Em Beruri, o rio alcançou 4,07 metros.
Bacia do Rio Madeira
“O Rio Madeira, em Porto Velho (RO), tem se recuperado de forma muito devagar”, analisa o pesquisador em geociências Marcus Suassuna.
O nível, que tinha voltado a subir, passou por oscilações e reduziu ao longo da semana, numa média de 4 centímetros por dia, alcançando 1,53 metro. Em Humaitá, a cota é de 9,50 metros – a estação chegou a registrar a mínima histórica de 8,10 metros.