Delação de Élcio Queiróz motivou prisão de mais um participante na execução e fechou um ciclo da apuração do crime
O país acordou com a notícia de que a Operação Élpis da Polícia Federal, que apura o assassinato de Marielle Franco, alcançou a porta de Maxwell Corrêa, conhecido como “Suel”. O ex-bombeiro foi preso pelos agentes por envolvimento na execução da ex-vereadora.
Maxwell já tinha sido condenado por atrapalhar a investigação da execução de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2022. A pena foi de quatro anos de prisão domiciliar, que ele cumpria em sua casa no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Este é o primeiro passo público dado pela investigação da Polícia Federal durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem entre seus ministros a irmã de Marielle Franco, a jornalista e professora Anielle Franco, que chefia o Ministério da Igualdade Racial.
A operação e consequente prisão de Suel foi possível após a delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz, acusado de ser o condutor do veículo que levava o suspeito de assassinar Marielle Franco, Ronnie Lessa, outro ex-policial militar.
De acordo com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a delação de Queiroz ocorreu há 15 ou 20 dias e foi homologada na Justiça. O ex-policial militar confessou que conduzia o veículo e confirmou que Ronnie Lessa foi o autor dos disparos que mataram Marielle Franco.
Dino celebrou o que chamou de “avanço” na investigação, durante entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, na sede do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em Brasília. Representantes do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e da Polícia Federal acompanharam o ministro na coletiva.
“A partir daí, as instituições envolvidas terão os elementos necessários ao prosseguimento da investigação. Não há, de forma alguma, a afirmação de que a investigação se acha concluída, pelo contrário. O que acontece é uma mudança de patamar da investigação”, explicou o ministro.
“Há aspectos que ainda estão sob investigação, em segredo de Justiça. O certo é que nas próximas semanas provavelmente haverá novas operações derivadas desse conjunto de provas colhidas no dia de hoje [segunda]”, concluiu.
De acordo com o MP-RJ, Maxwell era o dono do carro usado para esconder as armas que estavam em um apartamento de Ronnie Lessa, apresentado na coletiva de Dino como amigo e ex-bombeiro, que também teria ajudado a jogar o armamento no mar.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que o ex-bombeiro atuava na “vigilância” e no “acompanhamento” de Marielle Franco. “Já poderia adiantar que ele participou de ações de vigilância e acompanhamento da ex-vereadora e apoio logístico com os demais [participantes] de toda essa cadeia criminosa. Ele teve papel importante neste contexto inteiro. Antes e depois [do crime]”, afirmou Andrei.
Na prática, a prisão de Suel sela o núcleo de execução de Marielle Franco. “Conseguimos determinar com lastro firme como foi o dia 14 de março. Essa é uma fase do trabalho e conseguimos carear provas importantes. Conseguimos, como muita consistência, estabelecer a mecânica do crime”, disse o superintendente da Polícia Federal, Leandro Almada, também em entrevista coletiva, nesta manhã, ao lado do promotor de Justiça Fábio Corrêa, do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) .
A contradição e a delação
Porém, a investigação segue sem conseguir se aproximar do mandante do crime, dúvida que se mantém desde a noite de 14 de março de 2018, quando a ex-vereadora e se motorista foram executados.
O Brasil de Fato teve acesso ao documento da Polícia Federal e do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro em que consta a delação premiada de Élcio Vieira Queiróz. O texto explica a dificuldade de chegar no mandante.
“Outro aspecto relevante a ser destacado consiste na notória dificuldade imposta pelo extenso lapso temporal entre o crime e a presente apuração. Parte significativa das provas e evidências deixadas por seus autores, seja mandante seja executor, pereceu com o tempo, impondo severa limitação a novas diligências que se mostraram oportunas com o avanço dos trabalhos”, lamentou a PF.
Reprodução do documento da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio de Janeiro com a delação de Élcio Queiróz / Reprodução
Para Fábio Corrêa, a vitória que os poderes que participam da investigação podem celebrar é a “quebra no pacto de silêncio”, estabelecido entre Élcio Queiroz e Ronie Lessa.
A expectativa dos investigadores é que a delação de Queiroz jogue pressão sobre Lessa, que precisará se defender e lidar, pela primeira vez, com a oposição do sócio na execução da ex-vereadora. Foi justamente uma contradição entre eles que motivou o delator.
Dois dias antes do crime, Ronie Lessa pesquisou o CPF de Marielle Franco, informações sobre sua vida e de sua filha, Luyara Santos. No entanto, o ex-PM garantiu a Élcio Queiroz que não havia investigado a ex-vereadora.
“O convencimento do Élcio (para delatar) foi porque o Ronnie garantiu que não tinha feito pesquisa sobre Marielle e isso gerou uma desconfiança por parte de Élcio”, informou Guilhermo Catramby, delegado da Polícia Federal, à imprensa.
Flávio Dino foi sumário ao afirmar que não há acordo na delação premiada que preveja a soltura de Élcio Queiroz, que deve seguir encarcerado até o júri popular que o julgará, que ainda não tem data marcada.
“O instituto da colaboração premiada pressupõe o acordo [benéfico ao delator]. Claro que houve. As cláusulas ainda permanecem sob sigilo judicial, mas posso afirmar que o senhor Élcio continuará preso em regime fechado. Inclusive, onde se encontra”, afirmou o ministro.
Fonte: Brasil de Fato