Bioeconomia se destaca como novo campo da pesquisa agropecuária no bioma. Descoberta de microrganismos acelera perspectiva de uso na produção de novos bioinsumos
chamada de Seringueira Tricomposta, que consiste em uma combinação de enxertias de clones, que permite obter árvores produtivas e resistentes. Isso é possível graças ao conhecimento gerado sobre a diversidade genética de seringueiras na Amazônia, pois foram feitos cruzamentos entre seringueiras de diferentes espécies que ocorrem na região.
O longo tempo está relacionado ao desenvolvimento da seringueira que entra na fase de produção de látex após 6 a 7 anos, e as diversas etapas de pesquisa que envolveram testescom os cruzamentos entre espécies, condução de plantios para as avaliações até a seleção das plantas compatíveis e com melhor desempenho.
Justamente para amenizar a espera pelo tempo de produção de látex, uma alternativa que vem sendo trabalhada mais recentemente são experimentos de cultivos de seringueira em consórcio com espécies perenes (cacau, guaraná, tucumã, banana e gliricídia) e de ciclo curto (milho-verde e de feijão-caupi), trabalho coordenado atualmente por Cordeiro.
Em relação ao cultivo de dendezeiro, a Embrapa Amazônia Ocidental continuou essa linha de pesquisas e contribuiu para a produção de palma de óleo adaptada às condições de cultivo no Brasil. Destacam-se entre as tecnologias lançadas cultivares de dendezeiro do tipo Tenera recomendadas para plantio em região tropical úmida, e o primeiro híbrido interespecífico produzido comercialmente no Brasil, o BRS Manicoré, recomendado para áreas de incidência do amarelecimento fatal (AF), além de sistema de manejo de consórcio do dendezeiro com culturas alimentares para geração de renda na fase pré-produtiva da palma de óleo.
Também em outros temas passou a gerar resultados de referência nacional ou regional. Por exemplo, na piscicultura o centro de pesquisa contribuiu em tecnologias para criação de tambaqui, principal espécie nativa cultivada no País. Em âmbito regional, conseguiu a redução no ciclo de produção desse peixe e maiores índices de produtividade com sistema intensivo que triplicou a produção por hectare.
Estudos continuam sobre nutrição, sanidade, reprodução, tendo como objetivo contribuir para maior sustentabilidade na piscicultura na região amazônica. Em relação à produção vegetal, as pesquisas contribuíram com diagnóstico e prevenção de doenças da bananeira e alternativas para viabilizar produção, assim como avaliou e disponibilizou materiais de alta produtividade para cultivos de milho, mandioca, feijão-caupi, banana, entre outros resultados. Atualmente a atuação da pesquisa da Embrapa no Amazonas é agrupada em temas prioritários que incluem fruticultura, olericultura, culturas agroindustriais, piscicultura, uso e conservação da biodiversidade e sistemas integrados de produção.
Do aumento de produtividade às características funcionais do guaranazeiro
A Embrapa Amazônia Ocidental é pioneira em desenvolver tecnologias para cultivo do guaraná. O agrônomo Firmino do Nascimento Filho, que atua na empresa há 39 anos, conta que os primeiros trabalhos com a planta foram relacionados a fitotecnia, espaçamento e adubação, mas o maior desafio foi enfrentar a doença Antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum guaranicola, que estava reduzindo a produção dos guaranazais na terra de origem dessa planta, em Maués (AM).
Na década de 70, esse problema tornava os cultivos inviáveis e desestimulava agricultores. Pesquisadores e técnicos identificaram plantas com potencial de resistência,elaboraram método de propagação vegetativa e outros protocolos, além de diversosestudos agronômicoscom o guaranazeiro. “O objetivo principal era assegurar produtividade e resistência e nós logramos êxito”, afirma Firmino Filho. Como resultado do programa de melhoramento genético do guaranazeiro,vieram os lançamentos de cultivares que permitem alta produtividade e trazem resistência genética às principais doenças.
Entre 1999 e 2013 foram lançadas 18 cultivares clonais, baseadas na reprodução por estaquia e mais recentemente a BRS Noçoquem. O conhecimento agronômico em torno do cultivo do guaranazeiro, como a produção de mudas, orientações de manejo e tratos culturais, além de boas práticas de colheita e pós-colheita, norteiam o cultivo dessa planta no Amazonas e em outros estados.
O coordenador do programa de melhoramento genético do guaranazeiro, agrônomo André Atroch, destaca a importância estratégica de investir em estudos nessa planta que tem grande potencial de uso na saúde humana, em razão de seus compostos bioativos. Assim, nos últimos anos a Embrapa passou a realizar estudos sobre a diversidade genética com olhar também sobre as propriedades funcionais. Atroch tem coordenado pesquisas sobre a presença de substâncias responsáveis por efeitos energéticos e antioxidantes em genótipos de plantas de guaraná e revela que esse conhecimento permitirá, futuramente, lançar cultivares de guaranazeiros com capacidade de produzir frutos com menores ou maiores teores de substâncias funcionais, de acordo com o interesse, ampliando o potencial de uso do guaraná em indústrias como a cosmética e a farmacêutica.
Microrganismos com potencial biotecnológico
Atualmente novos horizontes de atuação da Embrapa Amazônia Ocidental se abrem com a biotecnologia e prospecção de microrganismos e bioativos naturais presentes no ambiente amazônico. Um dos destaques tem sido a linha de pesquisa, coordenada pelo biólogo Gilvan Ferreira da Silva, relacionada à prospecção de microrganismos com potencial biotecnológico e a interação multidisciplinar com áreas da microbiologia, química e genômica.
Nesse trabalho foram identificados microrganismos amazônicos com potencial para o desenvolvimento de bioinsumos, para o controle de patógenos de interesse agrícola, para promoção de crescimento de plantas, além de outras aplicações em atividades industriais e inclusive para fins de uso na medicina. Os microrganismos, encontrados em plantas ou em sedimentos de rios, revelam um imenso potencial que requer maiorinvestimento em ciência e tecnologia e ampliação de parcerias, para a aplicação desses resultados na realização das soluções promissoras que se vislumbram. “Nós nos deparamos como uma infinidade de novas informações e aí temos que recorrer a parcerias em novas áreas de conhecimento e novos parceiros tecnológicos para chegar a produtos finais que possam ser usados pela sociedade”, observa Cordeiro.
Texto: Embrapa| www.embrapa.br.