Da ordenha bovina e bubalina até a produção nas fábricas de terra firme ou flutuantes, os queijos de Autazes e regiões circunvizinhas são únicos. E agora esse reconhecimento é oficial, com a assinatura do laudo de delimitação da área da Indicação Geográfica (IG). Este selo agregará valor à maior cadeia produtiva pecuarista, leiteira e queijeira do Amazonas, que está avançada na adequação sanitária e tecnológica.
São mais de 76 mil cabeças de gado, onde a maioria é aproveitada para atividade leiteira, numa produção média diária de aproximadamente 50 mil litros, o dobro da média nacional (25.508 litros em 2021), de acordo com o portal sobre lácteos MilkPoint. As informações são da Secretaria Municipal de Produção Rural de Autazes e da Associação dos Produtores de Queijo de Autazes (Aproqueijo), respectivamente. Na Terra do Leite, cerca de 1,5 mil pecuaristas atuam nesse segmento.
É daí que nasce a abundante matéria-prima dos queijos, onde o coalho é o mais comum, mas também se encontra o mussarela, frescal, ricota, queijo manteiga, além de outras produções derivadas, como doces, requeijão, iogurte, manteiga e coalhada. Um trabalho de origem quase centenária e que conquistou o paladar de amazonenses por todo o estado.
Atualmente, oito fábricas de queijo de diferentes portes estão legalizadas em Autazes e 20 buscam a regularização. Entre elas estão queijarias flutuantes, em estruturas que facilitam o acompanhamento do gado no período de cheia, levando em conta o perfil hidrográfico da região. Na várzea ou na terra firme, esse território contempla Autazes e Careiro da Várzea, além de parte de Itacoatiara, Nova Olinda do Norte, Careiro Castanho e Borba.
Transformação
E desde 2021 os agentes desse segmento passaram por um intenso processo de capacitação, do trato do rebanho, com a adoção de boas práticas agropecuárias – como a exigência de vacinação do gado -, até a manipulação do leite, a partir do uso de equipamentos específicos para operação dentro da conformidade, além da condição da água, manuseio e fluxo de pessoas nos locais de produção.
Um dos que acompanharam de perto esse desenvolvimento e vem adaptando o modo de operação na cadeia do leite é o produtor Neto Paiva, 42. O queijo é um trabalho familiar iniciado com os pais, na década de 1960, e agora ele aposta no selo de Indicação Geográfica visando um salto no comércio. “Já temos o nome, mas queremos colocar nosso queijo coalho para o Brasil todo, que eu creio ser diferente de todo o queijo coalho do país. Isso vai fortalecer muito”, vislumbrou.
Na manhã desta sexta-feira, 29/7, Neto e seus colegas produtores estiveram reunidos no estande do Sebrae durante a programação da 23ª Feira Agropecuária de Autazes. Eles testemunharam a assinatura do laudo de delimitação da área onde o queijo característico da região é produzido. Resta agora o trâmite para a comprovação junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) de que o produto atende as exigências para a conquista do selo.
Etapa decisiva
A última grande etapa na busca pela sétima IG do Amazonas foi celebrada entre entidades parceiras que capitanearam o projeto e os trabalhadores do setor queijeiro, com a definição da origem controlada dos queijos de Autazes e a entrega simbólica de um cheque de R$ 50 mil pelo prefeito Andreson Cavalcante.
Antes, o projeto passou por elaboração do caderno de especificações técnicas, comprovação da espécie, criação do manual de identidade visual, criação de associação representativa e dossiê histórico-cultural da área. O treinamento para as novas práticas foi oferecido aos produtores por meio do Sebraetec, programa do Sebrae subsidiado em até 70% do custo que oferece acesso a serviços tecnológicos e de inovação, visando à melhoria de processos e produtos.
Em 2021, o projeto recebeu emenda parlamentar de R$ 150 mil do deputado estadual Serafim Corrêa. Já para este ano, o Sebrae Amazonas concedeu aporte de R$ 100 mil ao trabalho na busca pela IG, totalizando um investimento de R$ 300 mil.
Estiveram presentes no evento de sexta-feira ainda o Sebrae Amazonas, representado pelo presidente do Conselho Deliberativo Estadual, Muni Lourenço, e diretoria; a Unidade Gestora de Projetos Especiais e Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror), representando o Governo; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), vereadores de Autazes e a Aproqueijo.
“Essa Indicação Geográfica é sinônimo de melhoria de renda para milhares de famílias, agregação de valor e consolidação dessa verdadeira grife que existe hoje e, com certeza, vai se consolidar ainda mais, do queijo coalho de Autazes em Manaus e em outros mercados consumidores”, projetou Muni Lourenço.
Para Diego Martins, presidente da Aproqueijo, o selo será um divisor de águas no município e região. “O queijo Autazes tem fama. Esse selo vem para carimbar a fama que o queijo de Autazes tem, assim como já acontece com o Vinho do Porto, a Tequila do México, alguns queijos da França, da Suíça… Depois de muito trabalho, de várias gerações na produção de leite e queijo, vamos ganhar esse selo”.
Indicações Geográficas
No Brasil, o selo de Indicação Geográfica conferido pelo INPI é concedido a uma região que ficou conhecida ou apresentou vínculos relativos à qualidade e características de um produto ou serviço, conforme estabelecido pela Portaria INPI/PR Nº 4, de 12 de janeiro de 2022.
Atualmente, o Amazonas possui seis IGs: Farinha de Uarini, Peixes Ornamentais do Rio Negro, Abacaxi de Novo Remanso, Pirarucu de Mamirauá, Guaraná de Maués e Andirá-Marau (guaraná dos indígenas), cuja área contempla parte de municípios do leste amazonense e do Pará. Até dezembro de 2022, outras três indicações devem ser estabelecidas junto ao INPI: Queijos de Autazes, Mel de Abelhas Nativas de Boa Vista do Ramos e o Açaí de Codajás.