Tabajara Moreno
Aumentou a notificação de casos de câncer de pênis no Amazonas. A doença levou a amputações parciais e totais de órgãos sexuais em 42 homens, conforme a Fundação Centro de Oncologia do Amazonas (FCecon). Relacionado má higienização do órgão sexual e ao HPV (Papilomavírus Humano), a enfermidade é mais comum em homens a partir de 50 anos.
Entre 2018 e 2020, foram 42 penectomias no estado, conforme a FCecon. A retirada do tumor, muitas vezes, exige a extração integral ou parcial do pênis, com consequências não apenas para a vida sexual do homem.
O urologista George Lins, chefe do Serviço de Urologia da FCecon, alerta que a higienização e o uso de preservativos nas relações sexuais são imprescindíveis para a prevenção. Ele orienta, ainda, que homens com fimose podem ter mais chances de desenvolver a doença, uma vez que o problema dificulta a limpeza do órgão genial.
Dados mais recentes do Registro Hospitalar de Câncer (RHC), da FCecon, revelam que 30 homens receberam o diagnóstico de câncer do pênis, entre 2018 e 2019. Conforme o Ministério da Saúde, nos últimos quatro anos, o país registrou mais de oito mil casos desse tipo de tumor. A doença fez com que, nos últimos 14 anos, mais de sete mil homens tivessem de amputar o órgão sexual para tratar o câncer – média de 515 procedimentos por ano.
O surgimento desse tipo de câncer está ligado a que tipo de problema?
George Lins: Normalmente, o câncer de pênis está relacionado a má higiene, por isso é um câncer comumente presente em regiões onde o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) é baixo e há falta de informação. Essa higiene precária condiciona o surgimento do câncer de pênis. Outro aspecto é o dos pacientes que têm fimose, porque se ele tem dificuldade para exteriorizar a glande, que nada mais é uma doença da pele do pênis, naturalmente, não vai conseguir higienizar adequadamente, e tem mais chance de desenvolver o câncer e outras doenças sexualmente transmissíveis como o HPV, que está associado ao surgimento desse tipo de câncer, em específico os subtipos 16 e 18, que são os de mais alto risco.
A exemplo da mama, em que é possível fazer o autoexame, existe algum tipo de procedimento que o cidadão pode seguir regularmente para se precaver?
George Lins: Sempre higienizar adequadamente é um fator extremamente importante para se precaver. Aqueles pacientes que têm fimose, o ideal é que operem porque facilita a higienização e assim evita que o paciente evolua para uma doença como câncer de próstata e até facilite a contaminação pelo HPV. Outro fator, que não mencionei anteriormente, são as inflamações crônicas. Pessoas que têm excesso de prepúcio tem uma tendência de fazer as balanopostites de repetição. Essas inflamações reincidentes podem evoluir também. O uso do preservativo também é importante, porque previne as doenças sexualmente transmissíveis.
Qual é o primeiro sinal de que algo não vai bem com a saúde do pênis?
George Lins: A saúde do pênis não remete apenas ao câncer. O paciente, às vezes, tem coceira, uma leve descamação, um quadro inflamatório. Uma úlcera que não cicatriza, que tem secreção malcheirosa. Um ponto vermelho endurecido na cabeça do pênis. São sinais de que precisa procurar um urologista. Também é importante observar a secreção esmegma (sebo), que fica no pênis. A presença dele. Ela é carcinogênica.
Existe uma idade frequente ou comum para a manifestação dessa doença, um perfil de pessoas acometidas?
George Lins: Normalmente são pacientes de baixo nível socioeconômico, que vivem em péssimas condições de higiene e que tem a partir de 50 anos.
Que tipos de tratamentos são aplicados nesses casos?
George Lins: Dependendo do quão precoce é feito o diagnóstico alguns tratamentos menos agressivos podem ser utilizados, sem obviamente partir para uma amputação. Tratamentos utópicos com remédios que fazem infiltração, as microcirurgias e outros tratamentos menos agressivos. Até mesmo a remoção do prepúcio, para tratar o câncer de pênis. Dependendo do caso, é possível fazer a microcirurgia de Mohz ou você pode fazer as cirurgias postectomia que é a remoção do prepúcio, pois numa fase inicial pode estar restrito ao prepúcio.