A pandemia da Covid-19 tem provocado um apagão na assistência à saúde para outras doenças. Dados obtidos com exclusividade pela Sociedade Brasileira de Urologia com o Ministério da Saúde apontam uma redução média de 61% no número de internações para tratamento cirúrgico de incontinência urinária em 2021. No Amazonas, a redução foi de 50% com um total de 84 internações nos últimos três anos.
Nesta segunda-feira, 14 de março, celebra-se o Dia Mundial da Incontinência Urinária, doença que causa a perda involuntária de urina. O problema atinge 45% das mulheres e 15% dos homens acima de 40 anos.
“É uma das situações que mais comprometem a qualidade de vida. Existem várias causas e maneiras de tratar, e para tratar adequadamente o paciente é preciso fazer o diagnóstico do motivo que está causando essa perda”, disse o Dr. Alfredo Canalini, presidente da SBU.
Segundo Canalini, investigação feita em um grupo de mulheres idosas revelou que nem sempre a incontinência urinária era relatada pela paciente durante as consultas médicas, somente quando o médico perguntava sobre essa situação. “Isso revela que as mulheres encaram a perda de urina como algo ‘normal’ do processo de envelhecimento, como uma situação com a qual se deve aprender a conviver com alguma resignação. Temos que lembrar que existem recursos para tratar, ou pelo menos diminuir a intensidade da perda, e dessa forma melhorar a qualidade de vida”, pontua.
Tipos de incontinência
A incontinência urinária pode ter diferentes tipos e causas, sendo a incontinência urinária por esforço a mais comum, que se caracteriza pela perda urinária ao fazer esforços como tossir, espirrar ou carregar peso. Esse tipo corresponde a cerca de 40 a 70% dos casos de incontinência urinária em mulheres. É causada pela incapacidade do esfíncter de manter a uretra fechada durante o aumento da pressão abdominal.
Há ainda a chamada incontinência urinária de urgência ou bexiga hiperativa, que tem como característica uma vontade repentina e incontrolável de urinar durante o dia e à noite, a ponto de o indivíduo ter a qualidade do sono comprometida, já que precisa levantar-se várias vezes para ir ao banheiro.
Fatores de risco
Alguns fatores de risco da incontinência urinária são:
Idade
Ter tido partos difíceis
Diabetes
Obesidade
Presença de doenças neurológicas
Cirurgias na próstata (especialmente para tratamento do câncer)
“Apesar de um modo geral as pessoas associarem a incontinência urinária a idosos ou a pessoas com doenças neurológicas, ela não escolhe idade. Crianças também são afetadas com incontinência durante o dia ou à noite. Mulheres de meia-idade podem também deixar de fazer atividades do dia a dia por receio de escapes de urina na roupa. O que todas as pessoas incontinentes têm em comum, independentemente da idade e do sexo, é que a perda urinária causa sofrimento e afeta a qualidade de vida. Sendo assim, a incontinência urinária não deve ser negligenciada, já que é possível curá-la na maioria dos casos”, alerta Dr. Ubirajara Barroso Jr., diretor da Escola Superior de Urologia.
Impacto nos procedimentos devido à pandemia
A pandemia tem afetado sobremaneira a realização de consultas, exames, tratamentos e cirurgias para incontinência. Dados do Sistema de Informação Hospitalar do Ministério da Saúde obtidos pela SBU mostram que o número de internações para tratamento da incontinência vem caindo nos últimos três anos, totalizando uma redução de 61% – em 2021* foram 2.631 internações e em 2019 (antes da pandemia), haviam sido 6.735.
A região Norte foi a mais impactada, com uma redução de 72% nas internações, seguida pelas regiões Sul (-69%), Centro-Oeste (-61%), Sudeste (-59%) e Nordeste (-51%).
Urologistas da SBU estão realizando um estudo tendo como base o banco de dados do Sistema Único de Saúde do Ministério da Saúde para avaliar o impacto da pandemia nas cirurgias para tratamento da incontinência urinária por esforço e constaram que os estados com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) menor são os mais afetados.
“Levamos em conta somente os dados pré-pandemia e observamos que os estados com menor IDH são os que apresentam menor número de cirurgias por milhão de habitantes (isto é, já considerada a população do estado). Mesmo nos estados com maior IDH, o número de cirurgias corrigido pelo tamanho da população é bem inferior ao de países com bom desenvolvimento econômico, demonstrando que nossa população atendida pelo SUS tem pouco acesso a tratamentos importantes como o da incontinência urinária por esforço”, explica Dr. Cristiano Gomes, urologista que faz parte da equipe que conduz o estudo.
Tratamento
O tratamento do paciente com incontinência urinária requer uma abordagem multidisciplinar. Mudança nos hábitos de vida também são importantes, como urinar periodicamente, tratar a constipação e outros problemas clínicos como diabetes e obesidade.
O tratamento pode incluir fisioterapia, medicamentos, aplicação de toxina botulínica e cirurgia para implantação de sling, marca-passo na bexiga e esfíncter artificial.