O caminho entre brincar com bonecos na infância e subir ao palco da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, para celebrar prêmios internacionais, foi trilhado com disciplina e uma busca constante pela versatilidade. Ryron Queiroz, hoje com 17 anos, destaca-se no cenário artístico do Amazonas não apenas pela atuação, mas pela capacidade de transitar entre a dança, o canto e a interpretação para as câmeras.
O despertar para a profissionalização da carreira ocorreu em 2019, durante o Projeto Passarela, em Brasília. Sua mãe, Marlice Pessoa, percebeu ali que o talento do filho havia superado o status de hobby ao vê-lo conquistar diversas premiações e bolsas de estudo. “Eu disse a ele: ‘Se você se dedicar, no próximo ano você estará ali no palco, ganhando todos os reconhecimentos que almeja’. E foi exatamente o que aconteceu”, recorda a mãe.
Recentemente, Ryron reafirmou sua versatilidade ao retornar ao teatro musical, um desafio que exigiu recuperar o ritmo da infância, quando se destacava como cover de Michael Jackson. “Dessa vez, aprendi de forma técnica e profissional a dançar e a cantar. Eu adquiri um certo gingado com isso, pois quando eu tinha oito anos eu aprendia só olhando, assistindo e imitando os passos”, explica o ator sobre o novo momento.
O retorno aos palcos demandou esforço físico e mental, com rotinas de cinco horas diárias de aula. Ryron admite que o início foi desafiador. “Foi difícil pra mim conciliar essas três artes, pois eu não estava acostumado, ainda mais considerando que eu havia parado de praticar a dança e não tinha tanto hábito de cantar, além do tempo de aula ser mais longo”, revela.
Essa transição para o musical complementa sua principal vitrine atual: o audiovisual. No cinema e nas webséries, a linguagem exigida é oposta a do teatro. Ryron explica que a grande “chave” de sua formação foi entender a diferença de escala entre as artes. “A chave foi entender que, no teatro, o artista pode ser mais expansivo, enquanto no cinema é algo mais discreto. A atuação é mais focada nas expressões faciais”, compara.
Essa percepção foi fundamental para o sucesso de seu personagem mais conhecido, o Arthur, que protagonizou duas fases distintas na ficção. Em “A Última Missão”, Arthur era uma criança expressiva, enquanto na premiada “Engajados”, o personagem ressurgiu mais sério, refletindo o próprio amadurecimento do intérprete. “Para interpretar o amadurecimento do Arthur, eu tive a mim mesmo como base. O Arthur mais amadurecido é mais sério”, comenta Ryron.
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O desempenho em “Engajados” ajudou a série amazonense a conquistar três troféus no Rio WebFest, superando produções estrangeiras. Para o ator, o aprimoramento técnico foi o que garantiu o resultado. “O aprimoramento no meu conhecimento e experiência para atuar ajudou a entregar uma performance ainda mais profissional”, destaca.
A facilidade de adaptação do jovem é um dos pontos que mais chamam a atenção nos bastidores. Marlice destaca a rapidez do filho em lidar com os roteiros. “A característica que mais me impressiona no Ryron, hoje, é a facilidade que ele tem em aprender, principalmente a decorar textos. Ele lê poucas vezes e rapidamente já está com o texto na ponta da língua e muitas das vezes sabe a fala até dos outros personagens”, afirma.
As referências de Ryron para o futuro também apontam para essa versatilidade. Ele cita atores como Christian Bale e Ryan Gosling como modelos de carreira, especialmente pela capacidade de transição entre gêneros. “Fiquei impressionado com o Christian Bale, porque é difícil imaginar que o mesmo ator que interpretou o Batman também sabe cantar e dançar e era protagonista de um filme musical”, diz ele, citando o filme Newsies.
Ele também observa o trabalho de Ryan Gosling em produções como Barbie e Blade Runner 2049. “Gosling participou tanto de filmes mais sérios quanto de filmes mais cômicos. Interpretando o Ken (em Barbie), ele demonstrou que sabe cantar e dançar. Isso mostra que é possível transitar entre esses mundos”, analisa.
Para Marlice, ver o filho se consolidar como um artista completo é a confirmação de um ciclo natural. “É a confirmação de que tudo tem seu tempo certo de acontecer. Eu sempre o motivei e acreditei que ele tinha muito potencial a ser explorado, mas nunca o forcei a nada, sempre o deixei livre e à vontade para decidir”, reforça.
Marlice recorda com emoção o momento em que a ficha caiu sobre a magnitude do sonho do filho. “Quando saiu o resultado e o nome dele foi chamado várias vezes no palco, eu não consegui conter as lágrimas. Foi o momento em que percebi que ele não estava de brincadeira — ele estava dando tudo de si. Foi a certeza de que aquilo era só o início de uma carreira incrível”.


