A campanha Dezembro Vermelho é um momento crucial para ampliar o debate sobre a prevenção ao HIV/Aids. No entanto, especialistas alertam que o cuidado com a saúde sexual deve ser mais abrangente, incluindo um check-up periódico para diversas outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) que, muitas vezes, não apresentam sintomas.
Infecções como sífilis, clamídia, HPV e as hepatites virais podem evoluir silenciosamente e, quando não tratadas, levar a consequências graves como infertilidade, câncer e danos neurológicos. No Amazonas, apenas neste ano, já foram registrados 10.214 casos de ISTs, conforme dados do painel da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) atualizados até 4 de dezembro.
O check-up de ISTs é um ato de autocuidado e de responsabilidade, pois permite o diagnóstico precoce, o tratamento eficaz e a quebra da cadeia de transmissão. “Muitas pessoas associam a testagem de ISTs apenas ao HIV, mas há um universo de outras infecções que precisam de atenção. A sífilis, por exemplo, tem registrado um aumento alarmante de casos no Brasil e pode ser facilmente diagnosticada e tratada com um simples exame de sangue”, explica Luciana Campos, consultora médica e infectologista do Sabin Diagnóstico e Saúde.
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“A testagem periódica é uma das mais importantes ferramentas de cuidado, pois permite que o indivíduo conheça sua condição de saúde, receba o tratamento correto e proteja seus parceiros”, complementa.
Dúvidas
Uma das dúvidas mais frequentes é sobre o momento certo para realizar os testes. O também infectologista e consultor do Sabin, Marcelo Cordeiro, explica que pessoas sexualmente ativas devem fazer o rastreamento para ISTs ao menos uma vez por ano.
“Também é importante fazer o check-up quando você inicia uma relação com uma nova pessoa. E, no caso de casais estáveis que pensem em parar de usar preservativo, o ideal é fazer os exames antes”, afirma. Outras duas ocasiões são após exposição a situações de risco, como rompimento do preservativo, ou por indicação médica.
O que incluir em um check-up de saúde sexual?
Após uma conversa com um médico de confiança, um check-up completo para ISTs deve contemplar os seguintes exames:
- HIV 1 e 2: Testes de quarta geração já conseguem detectar o vírus em uma janela imunológica menor, agilizando o diagnóstico.
- Sífilis (VDRL e testes treponêmicos): Essenciais para identificar a bactéria Treponema pallidum em seus diferentes estágios.
- Hepatites Virais (B e C): Infecções que atacam o fígado e podem se tornar crônicas. O diagnóstico precoce é vital para evitar danos hepáticos severos.
- HPV (Papilomavírus Humano): Testes moleculares e o exame Papanicolau são cruciais para a detecção do vírus, principal causador do câncer de colo de útero.
- Clamídia e Gonorreia: Duas das ISTs bacterianas mais comuns, frequentemente assintomáticas e com grande potencial para causar doença inflamatória pélvica e infertilidade.
- Herpes Simples (Tipo 1 e 2): O diagnóstico sorológico pode identificar a infecção mesmo fora dos períodos de crise.
Prevenção combinada
A testagem, no entanto, é um pilar que complementa os métodos mais eficazes de prevenção: uso do preservativo (camisinha masculina ou feminina) em todas as relações sexuais (oral, vaginal e anal) e, para quem tem indicação, a utilização da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), um medicamento que reduz significativamente o risco de infecção pelo HIV quando usado corretamente.
A combinação de testagem regular, uso de preservativos, acesso à PrEP, vacinação (como para HPV e Hepatite B) e diálogo aberto com parceiros e profissionais de saúde forma a base da chamada “prevenção combinada”.
“Mais do que uma campanha de conscientização, o Dezembro Vermelho é um lembrete sobre o valor do autocuidado. Informação, prevenção e testagem são pilares para uma vida saudável e responsável”, conclui Luciana.
Cenário no Amazonas
Segundo a FVS-RCP, o maior número dos casos de ISTs no Amazonas (44%) foi diagnosticado entre os jovens de 20 a 29 anos. A segunda faixa etária com maior ocorrências é a de pessoas com 30 a 39 anos, respondendo por 21% dos registros. Chama a atenção também que 17% dos casos são entre adolescentes de 14 a 19 anos.
Até 4 de dezembro de 2025, o estado contabilizou 10.214 casos de ISTs — número apenas 10% menor que o total registrado ao longo de 2024, que foi de 11.337 casos. A média de notificações entre 2018 e 2025 é de 10.559 casos anuais, o que indica estabilidade preocupante, com pouco avanço na redução dos casos.
Situação epidemiológica no Brasil
O Brasil registrou cerca de 36,7 mil novos casos de HIV em 2023, com tendência de queda nos casos de Aids, reflexo do sucesso da terapia antirretroviral. Ainda assim, preocupa o aumento das infecções entre jovens de 15 a 29 anos, grupo mais vulnerável atualmente.
A sífilis vive uma verdadeira epidemia no país, com mais de 213 mil casos adquiridos em 2022 e 27 mil casos de sífilis congênita, que pode levar à mortalidade infantil e sequelas graves.
Estima-se que mais da metade da juventude sexualmente ativa esteja infectada pelo HPV, vírus responsável por quase todos os casos de câncer de colo do útero. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), esse tipo de câncer é o terceiro mais comum entre mulheres brasileiras, com cerca de 17 mil novos casos anuais.
Hepatites B e C somaram mais de 37 mil novos casos em 2022. A hepatite B pode ser prevenida por vacina, enquanto a hepatite C tem tratamento com potencial de cura — o desafio é o diagnóstico precoce.
Já clamídia e gonorreia continuam entre as ISTs bacterianas mais comuns, mas sofrem com subnotificação, já que não são de notificação compulsória no Brasil.


