A seca extrema de 2023 provocou aumento significativo da temperatura da água em lagos da Amazônia Central, resultando na morte de pelo menos 209 botos-vermelhos e tucuxis em menos de dois meses. As informações constam em estudo publicado na revista Science e realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) em parceria com instituições internacionais.
O levantamento analisou dez lagos, entre eles Tefé, Coari, Samaumerinha e Castanho. Entre setembro e outubro, a coluna d’água do lago Tefé alcançou temperaturas superiores a 40°C, atingindo até 41°C. De acordo com os pesquisadores, a ausência de camadas mais frias impossibilitou que os peixes buscassem refúgio térmico, aumentando a mortalidade.
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O superaquecimento foi resultado da combinação de ventos fracos, baixa profundidade, elevada turbidez da água, intensa radiação solar e cobertura reduzida de nuvens. A turbidez intensifica a absorção de calor, enquanto ventos baixos dificultam a perda de calor durante a noite. A amplitude térmica diária chegou a 13,3°C em alguns lagos.
O fenômeno afetou também as comunidades ribeirinhas, que enfrentaram escassez de água potável, restrição à pesca, dificuldade de navegação e isolamento. O estudo alerta para a tendência de aumento gradual da temperatura da água na região, com crescimento médio de 0,6°C por década entre 1990 e 2023.
O projeto Lagos Sentinelas da Amazônia acompanha hidrologia, qualidade da água e impactos socioambientais em cinco lagos da região, reforçando a importância do monitoramento contínuo.

