Mesmo com campanhas nacionais e anos de conscientização sobre o cuidado com a saúde, 46% dos homens brasileiros com mais de 40 anos ainda evitam o médico.
O dado, revelado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), mostra que quase metade dessa população só procura o médico quando os sintomas já aparecem. Em alguns casos, quando o quadro já está em estágio avançado.
Entre aqueles que dependem somente do Sistema Único de Saúde (SUS), o índice é ainda mais alarmante: 58% só vão ao consultório diante de sinais claros de doença. Especialistas apontam que esse comportamento tem diversos fatores, mas a desinformação e os tabus ligados à masculinidade são os principais.
De acordo com a SBU, o medo do diagnóstico, a falta de informação sobre exames preventivos e a crença de que “homem não adoece” estão entre os principais motivos que afastam o público masculino dos cuidados com a própria saúde.
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Desinformação na saúde masculina
O avanço das notícias falsas, as famosas fake news, sobre saúde tem sido um obstáculo para a prevenção de doenças no Brasil. Segundo levantamento do Ministério da Saúde e da FGV, o país concentra 40% de todo o conteúdo antivacina da América Latina e Caribe. Isso mostra que ccomo a desinformação pode moldar comportamentos e minar a confiança nas instituições médicas.
Embora a pesquisa se refira às vacinas, o fenômeno se repete na saúde masculina: notícias falsas e mitos espalhados nas redes sociais fazem muitos homens desacreditarem da necessidade de exames urológicos, especialmente o toque retal.
Especialistas alertam que a combinação de desinformação e constrangimento transforma a prevenção em um tema cercado de silêncio.
Principais tabus que afastam os homens do médico
De acordo com urologistas da SBU, três grandes tabus ainda dominam a mentalidade masculina quando o assunto é saúde:
- Preconceito com o exame de toque retal: visto por muitos como invasivo ou constrangedor, o exame é cercado de piadas e mitos, o que leva milhares de homens a evitá-lo, mesmo sendo rápido, indolor e essencial para detectar o câncer de próstata em estágios iniciais.
- Medo do diagnóstico: outro fator que pesa é o receio de receber más notícias. Médicos relatam que muitos pacientes preferem “não saber” do que enfrentar o tratamento, especialmente quando o tema envolve a sexualidade masculina.
- Falsa ideia de invulnerabilidade: culturalmente, ainda existe a crença de que “homem não adoece”. Essa percepção leva muitos a ignorarem sinais do corpo e a procurarem ajuda apenas quando os sintomas se tornam graves.
Para os especialistas, romper esses tabus exige diálogo aberto, educação e empatia. A SBU defende que o exame preventivo seja tratado como um ato de responsabilidade e autocuidado, e não como motivo de vergonha.
Novembro Azul e o desafio da conscientização
Em 2025, a campanha Novembro Azul reforça a importância dos cuidados com a saúde do homem e o diagnóstico precoce do câncer de próstata. A ação, coordenada nacionalmente pela SBU, ocorre em todo o país com o tema “#Saúde também é papo de homem”.
No Amazonas, a Fundação Centro de Controle de Oncologia (FCecon) lidera atividades de prevenção, mutirões de exames e palestras sobre o tema. Apesar disso, o cenário ainda preocupa: entre 2015 e 2024, o estado registrou 1.861 mortes por câncer de próstata, segundo dados da SBU.
O presidente da SBU Amazonas, Giuseppe Figliuolo, ressalta que o diagnóstico precoce é a principal ferramenta para salvar vidas.
O rastreio, aliado ao diagnóstico precoce e a um início rápido de tratamento, pode mudar a curva da mortalidade, com sucesso terapêutico em até 90% dos casos”, DISSE O UROLOGISTA.
Situação em Manaus e no interior do Amazonas
Em Manaus, instituições públicas e privadas intensificam neste mês campanhas voltadas ao rastreio de doenças masculinas. A Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) e a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) promovem atendimentos, palestras e consultas urológicas gratuitas voltadas a servidores e à população em geral.
Além da capital, no interior do estado a realidade é mais desafiadora: a dificuldade de acesso a especialistas, a falta de exames laboratoriais e a escassez de campanhas regulares ampliam o risco de diagnósticos tardios. Médicos relatam que a maioria dos casos de câncer de próstata detectados fora da capital chega em estágios avançados, reduzindo as chances de cura.
Câncer de próstata e o diagnóstico precoce
O câncer de próstata é o segundo tipo mais comum entre homens no Brasil, atrás apenas do câncer de pele. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados mais de 72 mil novos casos por ano no país.
Até porque, quando detectado precocemente, as chances de cura ultrapassam 90%, mas o atraso na busca por atendimento pode transformar uma doença tratável em uma ameaça grave à vida.
Dr. Figliuolo reforça que o preconceito ainda é o maior inimigo da prevenção.
Muitos homens deixam de fazer exames simples por vergonha ou medo, e acabam chegando ao consultório em fases já complicadas da doença. A informação é a nossa melhor aliada”, COMPLETOU FIGLIUOLO.
Educação, informação e quebra de tabus
Especialistas reforçam que combater a desinformação é o primeiro passo para mudar o cenário. Campanhas educativas em escolas, empresas e espaços públicos são fundamentais para aproximar os homens do sistema de saúde e naturalizar a prevenção como sinal de cuidado — não de fraqueza.
A SBU defende que as ações do Novembro Azul sejam mantidas durante todo o ano, com enfoque em educação em saúde, orientação sobre exames e fortalecimento da atenção básica.

