A Polícia Militar do Amazonas (PMAM) se tornou referência internacional em iniciativas de valorização da mulher na segurança pública com um projeto-piloto de empoderamento e mentoria feminina desenvolvido pela capitão Christina Martins, que recentemente levou a proposta à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
A oficial foi selecionada entre 467 inscritas de todo o país para o curso de Liderança Feminina em Finanças Públicas, oferecido pelo Instituto Insper, em parceria com o Banco do Brasil e o Tesouro Nacional.
O programa teve uma etapa internacional sediada em Harvard e busca fortalecer a presença de mulheres em posições de liderança no setor público. Christina foi a única representante militar do Brasil e a única mulher da região Norte entre as 48 participantes escolhidas.
Mentoria e protagonismo feminino na PM
O projeto, elaborado como trabalho de conclusão do curso de liderança feminina, foi criado em equipe por seis servidoras públicas de diferentes estados. A proposta da capitão amazonense foi transformar a ideia em um programa de mentoria voltado às oficiais mulheres da PM do Amazonas, com foco em desenvolver competências comportamentais, como comunicação assertiva, liderança, inteligência emocional e planejamento.
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Como deve funcionar o projeto?
Além do desenvolvimento de lideranças, o programa tem um braço voltado à saúde mental dos policiais, propondo a criação da figura da “Oficial elo”, que seria uma ponte direta entre os militares e o Centro de Psicologia (CPSI) da corporação.
Essas oficiais vão identificar sinais de sofrimento e agilizando o encaminhamento para atendimento. Muitas vezes, o processo é burocrático e o apoio chega tarde. A ideia é salvar vidas, tornando esse cuidado mais rápido e humano”, destacou.
A capitão explica que, hoje, a corporação tem cerca de 9 mil policiais militares, dos quais cerca de 1.200 são mulheres, e apenas 212 são oficiais. O projeto é voltado justamente para esse grupo (a minoria dentro da minoria) e busca promover um ambiente mais acolhedor e inclusivo.
“A mentoria seria conduzida por oficiais mais experientes, preparando as mais novas para liderar com empatia e visão estratégica. A semente da transformação já foi plantada. Espero que o projeto seja implantado, porque ele valoriza a mulher militar e muda o ambiente organizacional, tornando-o mais humano e sensível às necessidades da tropa”, afirmou.

Um novo olhar para a liderança feminina na PM
A proposta também tem um impacto prático na gestão interna da corporação. Segundo Christina, a liderança dentro da PM precisa ser formada não só no campo tático e operacional, mas também no campo emocional.
O oficial é o primeiro que o policial procura quando tem um problema. Ele precisa estar preparado para lidar com as demandas da sua tropa, porque a gestão de crise muitas vezes começa dentro do quartel. O projeto busca justamente integrar essas competências comportamentais à rotina militar”, explicou.
O projeto-piloto pretende iniciar suas ações nas Sicões da Zona Norte de Manaus, a área de maior abrangência operacional da PMAM, onde as oficiais multiplicadoras poderão atuar de forma próxima às equipes, promovendo ações de prevenção e apoio psicológico.
Do Amazonas para Harvard
Durante o curso em Harvard, as participantes tiveram acesso a uma programação intensa sobre liderança, gestão estratégica, inovação no serviço público e equidade de gênero, conduzida por especialistas internacionais.
A capitão destacou o orgulho de representar o Amazonas e o Norte do país em uma das universidades mais prestigiadas do mundo:
O Norte tem pessoas inteligentes e mulheres capazes. Mesmo longe do eixo Sul-Sudeste, aqui também temos profissionais que buscam melhorias para o seu ambiente de trabalho. Foi muito satisfatório mostrar que uma mulher do Norte e militar também é capaz.”
Christina espera que sua trajetória sirva de inspiração para outras mulheres da corporação e para servidoras públicas em geral:
“Eu me sinto privilegiada e sinto que estou abrindo portas para outras mulheres militares do Norte e do Amazonas. Quero que elas também busquem o aperfeiçoamento profissional e ofereçam o melhor para sua instituição.”
O projeto-piloto de empoderamento feminino da PMAM, ainda em análise pelo Comando-Geral, deve servir de modelo para futuras ações de formação e mentoria dentro da corporação, consolidando um novo paradigma de liderança — mais humano, inclusivo e transformador — na segurança pública do Amazonas.

