Um novo comprimido em fase final de testes pode transformar o tratamento do colesterol alto e das doenças cardíacas. A pílula, que ainda aguarda aprovação internacional, promete reduzir em até 60% os níveis de colesterol LDL (o chamado “colesterol ruim”), com eficácia semelhante às injeções usadas atualmente, mas na forma de pílula diária.
A novidade foi apresentada durante o encontro anual da Associação Americana do Coração (AHA), um dos eventos mais importantes da cardiologia mundial.
O medicamento atua bloqueando a enzima PCSK9, presente no fígado, que dificulta a eliminação do colesterol pelo organismo. Ao inibir essa proteína, o corpo consegue remover o excesso de gordura do sangue com mais eficiência, reduzindo o risco de infarto e AVC.
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Como age o novo tratamento
Até agora, os inibidores de PCSK9 estavam disponíveis apenas em injeções aplicadas a cada 15 dias ou em terapias semestrais que modulam o RNA das células hepáticas. O novo comprimido representa o primeiro tratamento oral dessa classe de medicamentos, combinando alta potência com mais comodidade e adesão.
Nos testes de fase 3, com milhares de pacientes de alto risco, a pílula reduziu o colesterol LDL em cerca de 60% em comparação ao placebo ou até mesmo entre pessoas que já faziam uso de estatinas, os remédios mais comuns contra o colesterol.
Isso indica que o comprimido pode potencializar terapias existentes e ajudar quem não alcança as metas de redução apenas com estatinas.
Mas é bom deixar claro que o estudo clínico de longo prazo, chamado CORALreef Outcomes. Ele ainda está em andamento e deve ser concluído em 2029, avaliando o impacto do medicamento na prevenção de infartos e derrames.
Desafio global, impacto local
O colesterol alto é uma das principais causas de doenças cardiovasculares, que continuam sendo a maior causa de morte no mundo. No Brasil, esses problemas respondem por cerca de 32% das mortes, segundo o Ministério da Saúde.
No Amazonas, as doenças do aparelho circulatório (que incluem infartos e AVCs ), causaram 4.319 mortes em 2023, o equivalente a um em cada cinco óbitos registrados no estado.
Em Manaus, os fatores de risco também preocupam: 63,5% dos adultos estão com excesso de peso e 20,9% já têm diagnóstico de hipertensão, condições diretamente ligadas ao colesterol elevado.
Em busca de um tratamento mais acessível
Além da eficácia, um dos maiores atrativos do novo medicamento é a possibilidade de democratizar o tratamento. As terapias injetáveis, embora potentes, ainda atingem menos de 1% dos pacientes que poderiam se beneficiar, devido ao preço alto e à resistência ao uso de seringas.
Um comprimido diário, com o mesmo efeito, representa um avanço que pode revolucionar o controle do colesterol, especialmente em países de renda média como o Brasil.

