Mulheres, normalmente pós-menopausa, têm recorrido à testosterona para recuperar o desejo sexual, energia e bem-estar. Mas esse “atalho” para recuperar a virilidade, humor e libido, por meio do principal hormônio masculino, requer cuidados.
Especialistas alertam que o uso sem supervisão médica pode trazer efeitos colaterais graves, como aumento de pelos faciais, voz grossa, queda de cabelo e alterações irreversíveis no corpo.
É possível utilizar a testosterona sem causar efeitos colaterais?
Estudos indicam que restaurar os níveis de testosterona a patamares fisiológicos — semelhantes aos do fim dos 30 anos — pode melhorar o desejo sexual em mulheres pós-menopausa, sem provocar efeitos adversos significativos.
O único uso cientificamente comprovado da testosterona em mulheres é para tratar Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH). Os demais estudos mostram benefícios em relação ao placebo (simulação de tratamento).
Porém, a moda do uso da testosterona levou algumas mulheres a usar doses três ou quatro vezes maiores do que o recomendado. Com isso, houve o aumento dos riscos de efeitos adversos, que podem ser permanentes.
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Acompanhamento médico
Especialistas alertam que, embora o desejo de aliviar sintomas da pós-menopausa seja válido, o uso da testosterona deve ser sempre acompanhado por médicos especializados.
Existem outras alternativas seguras para tratar baixa libido e sintomas da menopausa, incluindo terapias hormonais com estrogênio e medicamentos não hormonais.
Entidades alertam sobre uso de testosterona em mulheres
Nesta segunda-feira (03), várias sociedades médicas brasileiras divulgaram uma nota conjunta para advertir sobre os riscos do uso de testosterona em mulheres fora das situações clinicamente reconhecidas.
Entre as entidades que assinam a nota, estão a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e o Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DCM‑SBC).
A recomendação é que a única indicação cientificamente respaldada da testosterona em mulheres é para o tratamento do Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH) em mulheres na pós‑menopausa, após exclusão de outras causas.
Confira as recomendações
- Não existe no Brasil nenhuma formulação de testosterona aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em mulheres, o que torna qualquer prescrição fora desse contexto essencialmente “off‑label” (sem descrição a bula).
- Relatam que o hormônio não deve ser usado com objetivos como ganho de massa magra, emagrecimento, aumento de disposição ou “efeitos antienvelhecimento”, pois não há respaldo científico para essas finalidades.
- O alerta vale também para fórmulas manipuladas, implantes subcutâneos ou “pellets” de testosterona que, frequentemente, são promovidos como “naturais”, “bioidênticos” ou “biodisponíveis”. Na verdade, são desaconselhados pelas entidades por falta de controle e de evidência de segurança.
O que fazer?
Segundo o comunicado, uma abordagem adequada para queixas de baixa libido em mulheres deve começar com a investigação de causas possíveis como depressão, efeitos colaterais de medicamentos, alterações hormonais (como hipoestrogenismo), condições de relacionamento ou fatores psicossociais — antes de considerar qualquer forma de terapia com testosterona.
A prescrição da testosterona, quando indicada, requer formulações de qualidade farmacêutica comprovada e acompanhamento clínico rigoroso. Fora isso, o uso é considerado experimental ou sem respaldo suficiente.

