O uso de betabloqueadores, medicamentos usados tradicionalmente para o tratamento cardíaco, voltou ao centro das discussões após ter sido citado por influenciadores como alternativa rápida de reduzir sintomas físicos da ansiedade, que são taquicardias, mãos trêmulas e sudorese.
Mas, apesar de a tendência ganhar força nas redes sociais, os especialistas demonstraram preocupação, principalmente em casos de automedicação e a falsa sensação de segurança.
Apesar de terem efeito sobre as reações do corpo, comuns em situações de estresses emocionais, profissionais de saúde ressaltam que os betabloqueadores não atuam diretamente na origem da ansiedade e, portanto, não deve ser usado sem orientação médica. Ou seja, o medicamento não trata o medo, a tensão antecipatória ou a preocupação.
Riscos do uso dos betabloqueadores para ansiedade
O propranolol, um dos representantes mais conhecidos dessa classe de remédios, existe desde a década de 1960. Porém, a popularização recente está relacionada a relatos virais em redes sociais, principalmente nos Estados Unidos, e a um ambiente de alta pressão e performance.
O médico psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP, membro da ABP e da APA (Associação Americana de Psiquiatria) explica ocorre porque a sociedade vive uma cultura de desempenho.
“Nesse sentido, o propranolol ajuda a controlar as reações físicas do estresse momentâneo, mas precisamos ter cuidado para não banalizar seu uso. Ele não é uma solução rápida para ansiedade e não substitui o tratamento adequado”, alerta.
Além do risco da automedicação, há preocupação com o uso frequente e sem prescrição.
“O que era para ser um recurso pontual acaba virando um hábito. A pessoa pode começar a acreditar que só consegue performar bem se tomar o remédio, e isso reduz a autonomia emocional”, afirma Scocca.
Efeitos causados por betabloqueadores
Do ponto de vista clínico, o tratamento sem acompanhamento pode trazer complicações sérias, alertam especialistas.
O uso indevido pode causar problemas respiratórios, queda de pressão, desmaios e diminuição importante dos batimentos cardíacos. Além disso, a medicação pode mascarar sintomas de arritmias e outras condições cardíacas, dificultando o diagnóstico.
Dependência emocional e limites
Na psiquiatria, o uso controlado antes de situações de estresse é aceito — sempre como apoio ao tratamento psicológico. Para especialistas, o maior risco é transformar a medicação em muleta emocional.
O que são os betabloqueadores e como funcionam?
São medicamentos que agem reduzindo a ação da adrenalina nos receptores do sistema cardiovascular, diminuindo batimentos e pressão arterial. Porém, não são ansiolíticos, embora possam atenuar sintomas físicos relacionados ao estresse. São usados principalmente para:
- proteger o coração após eventos cardíacos
- controlar pressão arterial
- tratar arritmias
- reduzir risco de infarto

