Nesta segunda-feira (10), é celebrado o Dia Nacional da Prevenção e Combate à Surdez, data que chama atenção para a importância da detecção precoce de alterações auditivas. O desenvolvimento da fala e da linguagem na infância depende diretamente dos estímulos sonoros recebidos nos primeiros meses de vida.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 32 milhões de crianças no mundo convivem com algum grau de perda auditiva. No Brasil, a prevalência é de aproximadamente 3 a 5 casos para cada mil nascidos vivos, de acordo com o Ministério da Saúde.
A importância da audição
“É ouvindo o mundo que a criança aprende a falar”, explica a fonoaudióloga Gabriela Ribeiro Ivo Rodrigues, especialista em audiologia pediátrica e fundadora da Casa Caracol, clínica referência em rastreamento, diagnóstico e reabilitação auditiva infantil em Manaus.
Ela destaca que os sons captados na primeira infância atuam como base para processos cognitivos, afetivos e sociais que acompanharão a criança ao longo de toda sua trajetória escolar e de convivência.
De acordo com Gabriela, os sons captados nos primeiros meses de vida são responsáveis por desencadear processos cognitivos e de linguagem que influenciam toda a trajetória escolar, social e emocional da criança. Quando há perda auditiva, mesmo que leve ou temporária, esse desenvolvimento pode ser comprometido.
A audição é o elo mais importante na cadeia de aquisição da comunicação oral. É através dela que as crianças ouvem e imitam os sons da fala, associando-os a significados. Crianças com dificuldades auditivas podem enfrentar problemas sociais e emocionais, como isolamento, ansiedade e baixa autoestima, devido à dificuldade em se conectar com os colegas e familiares. A audição também desempenha um papel na segurança, permitindo-nos localizar a fonte sonora e perceber sons de alerta no ambiente”, pontua.
LEIA TAMBÉM: Teste da orelhinha: entenda para que serve o exame em bebês
Como identificar casos de surdez
Entre o nascimento e os três anos, o cérebro apresenta maior capacidade de reorganização e formação de conexões, fenômeno conhecido como neuroplasticidade. Quanto mais cedo a perda auditiva é identificada e tratada, maiores são as chances de a criança desenvolver linguagem oral semelhante à de crianças ouvintes.
“Chamamos esse período de ‘janela de oportunidade’, é o tempo em que o cérebro é mais maleável para desenvolver a linguagem e a fala. A capacidade é maior, facilitando a adaptação a uma perda auditiva com o tratamento adequado”, destaca a fonoaudióloga.
Sinais de alerta para pais e cuidadores
Gabriela orienta que alguns comportamentos podem indicar risco de perda auditiva, como:
- – A criança não se assusta com barulhos fortes;
- – Não atende quando é chamada;
- – Não balbucia ou diminui as vocalizações;
- – Apresenta atraso no desenvolvimento da fala;
- – Parece distraída ou repete “o quê?” com frequência;
- – Demonstra dificuldade de compreender em ambientes barulhentos.
Além do teste de orelhinha
Mesmo crianças que passaram pelo Teste da Orelhinha ao nascer podem desenvolver perda auditiva posteriormente. Especialmente as que nasceram prematuras ou ficaram internadas em UTI neonatal. Por isso, o acompanhamento deve ser contínuo.
A especialista esclarece que crianças sem perda auditiva devem manter monitoramento regular, enquanto aquelas com fatores de risco precisam de acompanhamento mais frequente.
Quando o diagnóstico é tardio
Sem intervenção precoce, a criança pode apresentar vocabulário reduzido, dificuldade para formar frases, atrasos na compreensão e prejuízo escolar.
“O atraso na linguagem pode afetar o desenvolvimento do pensamento abstrato (…). Além disso, prejudica a interação da criança com a família, colegas e o meio social, em geral, podendo levar a dificuldades de socialização”, explica Gabriela.
O papel da família
Para a especialista, a família é peça fundamental no processo de reabilitação auditiva da criança. Quando há participação ativa dos pais, os avanços são mais rápidos e consistentes.
“A fonoaudióloga fica com a criança, no máximo, até 50 minutos, uma ou duas vezes por semana. É a família que está com a criança todo o restante do tempo. Então a família entender a importância dela no processo de reabilitação auditiva, pra nós, é mais importante”, destaca.
Serviços e onde buscar ajuda em Manaus
Em Manaus, o Teste da Orelhinha é oferecido gratuitamente em maternidades da rede pública e no Centro de Reabilitação Auditiva do Amazonas (CREA).
Casos suspeitos de perda auditiva podem ser encaminhados pela atenção básica (UBS) para avaliação especializada pelo SUS, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM).
Mais informações podem ser obtidas pelo telefone da Ouvidoria SUS-AM: 0800 280 8280.

