A circulação do espetáculo “Dona Batata” pelo interior do Amazonas marca um novo e importante momento para o teatro produzido na região. A iniciativa, contemplada pelo Programa Rouanet Norte com patrocínio do Banco da Amazônia (BASA), é uma realização da Rosa Malagueta Produções, com apoio do Centro de Artes Integradas do Amazonas (CAIA) e Cacique Produções, e direção de produção assinada por Rafaela Guimarães.
Com 20 apresentações gratuitas e acessibilidade em LIBRAS o projeto, do Grupo de Teatro Pintando o 7, passará por dez municípios amazonenses, alcançando estudantes de escolas públicas em Manaus (29/10), Careiro (31/10), Iranduba (03/11), Rio Preto da Eva (05/11), Presidente Figueiredo (07/11), Itacoatiara (10/11), Silves (11/11), Itapiranga (12/11), Novo Airão (17/11) e Manacapuru (18/11).
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O espetáculo tem 45 minutos de duração, é uma comédia de classificação livre e conta a história de Duda e Marquinhos, dois irmãos que, após receberem um castigo do pai, são obrigados a passar as férias indo à biblioteca. O problema não são os livros, mas a bibliotecária Dona Ângela, conhecida entre as crianças como Dona Batata. Sem ter como escapar, os dois acabam vivendo uma divertida aventura.
Para a dramaturga e atriz Rosa Malagueta, levar “Dona Batata” aos interiores do estado é a realização de um antigo sonho. “Sempre foi um desejo meu nessa minha trajetória poder alcançar públicos que dificilmente têm acesso ao consumo de bens culturais. O processo de interiorização cultural passa por esse lugar. No entanto é um processo oneroso, principalmente por nossas questões geográficas, que nos limitam muito enquanto artistas amazônidas. Somente com iniciativas públicas como o Programa Rouanet Norte e com patrocínios, como o recebido pelo BASA, conseguimos concretizar importantes ações culturais como essa, que vão muito além dos limites do campo cultural. Tornam-se em nosso contexto importante ferramenta política e social”, declara.

Dona Batata, além de um bem cultural, é uma importante ferramenta educativa, explica Rosa. “Por meio da história ficcional que a peça traz, buscamos estimular em nossas crianças e adolescentes a prática da leitura, tão importante para o desenvolvimento humano e social e que essas novas gerações têm perdido, principalmente diante do advento de novas tecnologias que, além de ocuparem grande parte do tempo, estão cada vez mais adoecendo nossa sociedade, e dentro desse contexto, as infâncias”, afirma.
O apoio do Programa Rouanet Norte e o patrocínio do BASA foram decisivos para a concretização da proposta. “Seria inviável executar essa proposta sem o apoio da esfera pública, pelos custos mesmo de alcançar nossos interiores. Temos falado muito sobre políticas públicas culturais, e principalmente políticas públicas voltadas a artistas de regiões historicamente desprestigiadas, seja por questões geográficas, econômicas ou sociais. Então o Programa Rouanet Norte surge para dar visibilidade a artistas nortistas, mas também visando alcançar novos públicos. Projetamos a circulação de Dona Batata como importante ferramenta de interiorização cultural, mas principalmente de formação de plateia. Chegar aos núcleos escolares, alcançar crianças e jovens em formação, muitos destes que nunca tiveram acesso a um espetáculo de teatro profissional, é uma forma de contribuir diretamente para o desenvolvimento social destes, por meio das artes”, aponta ela.
Grupo de Teatro comemora 35 anos
A circulação também celebra os 35 anos do Grupo de Teatro Pintando o 7, companhia fundada por Rosa Malagueta, que destaca a importância desse marco para sua trajetória. “Minha base é o teatro e sempre será. Embora esteja alcançando cada vez mais outros meios de produção e fruição, é no teatro que posso e tenho liberdade de expor minhas ideias e propostas enquanto artista. O Grupo Pintando o 7 sempre foi esse lugar de experimentação para mim, uma tela em branco onde posso expressar minhas sensações, de falar o que acho que precisa ser dito, e esse lugar passa sempre, desde o início, pelas infâncias. Então o Pintando o 7 sempre terá esse lugar pra mim, que me possibilita vivenciar outras experiências artísticas, principalmente de contato com os pequenos espectadores”, descreve a diretora.
Além do simbolismo histórico, a nova montagem traz um reencontro afetivo com os personagens e com o público. “A Dona Batata é interpretada pelo Wallace Abreu, que construiu brilhantemente essa personagem. Ela dá nome à peça mas na verdade é a vilã, a antagonista dessa história. Eu interpreto a Duda, que ao lado do Marquinhos (Branco Souza) recebem o ‘castigo’ de passar as férias indo à biblioteca. A Duda é muito especial pra mim, pois me rendeu meu primeiro prêmio como atriz no teatro. Isso foi um marco para a minha trajetória. Mas é um processo muito especial ainda, pois ela é uma criança de 9 anos de idade e sou uma mulher de mais de 50. Então o processo de redescoberta desse corpo jovem é um dos principais desafios nesse processo de remontagem. A peça é muito enérgica, com ações muito específicas, então estou trabalhando fisicamente para manter as características da Duda e para mantermos o espetáculo na íntegra como foi pensado há mais de uma década atrás”, reflete Rosa.
A direção de produção de Rafaela Guimarães coordena a logística de deslocamento e estrutura técnica da circulação. “Fazer teatro já é um desafio. Fazer teatro na Amazônia o desafio é dobrado, ainda mais numa atividade que engloba dez municípios num processo de produção quase simultâneo. É uma rede, uma teia, onde tudo precisa acontecer de forma coordenada, como foi pensada, para que não se quebre o todo. Nosso principal desafio são as questões geográficas. Vivemos num estado de dimensões continentais, então é um processo que difere muito por exemplo de uma produção no eixo Rio-São Paulo, onde as cidades são muito próximas umas das outras. Aqui, o tempo que levamos para nos deslocarmos de uma cidade pra outra é bem maior e isso influencia em nossa agenda”, destaca Malagueta.
O elenco é formado por Rosa Malagueta, Branco Souza, Cleciano Cardoso e Wallace Abreu, que reassumem seus papéis com entusiasmo e cumplicidade. “Com exceção do Cleciano, todos os outros estão desde o início do processo. Percebemos, nesse processo de remontagem, que o espetáculo, as cenas e os personagens seguem vivos dentro da gente, como se só estivessem adormecidos. Foi muito rápido reencontrar e reativar essa energia, pensando de maneira individual e coletiva. É um trabalho muito especial para nós enquanto grupo”, pondera Rosa.
As apresentações são voltadas ao público estudantil e trazem o compromisso com a inclusão. “Precisamos cada vez mais pensar num mundo acessível, igualitário, com possibilidades reais para todos. É importante levar esse recurso de acessibilidade para as escolas, principalmente pensando nas crianças e jovens que vão acessar o trabalho. Mesmo que estes não dependam do recurso disponível, sabemos que este tópico não passará aos olhos atentos e curiosos da juventude. A ideia é não só dispor do recurso, mas falar um pouco sobre o recurso e a importância da acessibilidade não só no contexto das artes. Pretendemos ainda ofertar uma breve vivência em LIBRAS antes ou ao término das apresentações”, completa ela.
Confira o calendário de apresentações
29/10 – Manaus/Escola Municipal Jarlece da Conceição Zaranza (10h)
29/10 – Manaus/Escola Municipal Villa Lobos (14h)
31/10 – Careiro/Centro Educacional João Lobo (10h)
31/10 – Careiro/Escola Municipal Daniel Conrado (10h)
03/11 – Iranduba/Escola Municipal Creuza Abess Farah (10h)
03/11 – Iranduba/Escola Noemi Santos Pereira (14h)
05/11 – Rio Preto da Eva/Escola Municipal Gilberto Mestrinho (10h)
05/11 – Rio Preto da Eva/Escola Municipal Menino Jesus (14h)
07/11 – Pres. Figueiredo/Escola Municipal Infantil Antônio José Vieira (10h)
07/11 – Pres. Figueiredo/Escola CETI – Maria Eva dos Santos (14h)
Segunda etapa
10/11 – Itacoatiara/Escola Municipal Maria Nira Guimarães (10h)
10/11 – Itacoatiara/Escola Municipal Jamel Amed (15h)
11/11 – Silves/Escola Municipal Alda Amazonas Martins (10h)
11/11 – Silves/Escola Estadual Humberto Alencar Castelo Branco (16h)
12/11 – Itapiranga/ Escola Estadual Quitó Tatikawa (10h)
12/11 – Itapiranga/Escola Estadual Teresa dos Santos (14h)
Terceira etapa
17/11 – Novo Airão/Escola Municipal Raimundo Nonato Teixeira (10h)
17/11 – Novo Airão/Escola Estadual de Tempo Integral Joaquim de Paula (14h)
18/11 – Manacapuru/Escola Estadual Carlos Espinho (10h)
18/11 – Manacapuru/Escola Estadual André Vidal Araújo (14h)