O Aeroclube do Amazonas (ACA) vai deixar a casa dele no Aeroporto de Flores após 85 anos no local. A decisão faz parte de um acordo judicial assinado na 3ª Vara da Justiça Federal com a Infraero Aeroportos, a nova administradora do local
“Já chegamos para a audiência de conciliação com a certeza de que um péssimo acordo seria feito, já que as punições previstas na ordem de despejo eram graves e muito caras. A empresa (Infraero) estava reticente e nos ameaçando com multas e cobranças de até R$ 500 milhões. Nesse quadro tínhamos de partir para um acordo, um acordo péssimo. Peço desculpas a todos por assinar esse acordo, mas não tinha o que fazer”, afirmou o presidente do ACA, Cassiano Ouroso.
Agora, o ACA tem 40 dias para desocupar as salas de aulas, hangares, salas de simuladores, salas da administração e pátio onde são realizadas as confraternizações dos membros do clube. Para Ouroso, o prazo será aproveitado para arregimentar forças e concluir a formação de uma turma de pilotos que está em andamento. “Foi um passo atrás para ver o que faremos no futuro”, disse.
Nos próximos dias, segundo o dirigente, a diretoria vai se reunir para formar um grupo de trabalho para negociar as dívidas e a transferência da Escola de Aviação para outro espaço.
Uma história que começou na segunda guerra mundial
O Aeroclube do Amazonas foi fundado em 1940 sob inspiração do jornalista e empresário Assis Chateaubriand, do grupo Diários Associados, que liderou uma campanha para a criação de aeroclubes com escolas de aviação em todos os Estados. Com a doação de um pequeno avião, Chateaubriand incentivava a fundação dos aeroclubes, como o do Amazonas.
Inicialmente construído em imóveis doados por aficcionados da aviação e bancado pelo Governo do Amazonas, que estava nas mãos do interventor Álvaro Maia. Após concluído, Maia repassou a administração para o ACA, que construiu toda a estrutura do local, como salas, galpões e hangares, que agora terão de entregar para a Infraero.
Em 1976 o aeródromo foi “estatizado” no governo do ex-presidente Ernesto Geisel, mas seguiu sendo administrado pelo Aeroclube do Amazonas sob a forma de comodato e delegações especiais que foram sendo renovadas até 2023.
Naquele ano o governo federal concedeu o Aeroporto Internacional de Manaus Eduardo Gomes ao grupo Vinci Airports e deixou para a Infraero a missão de administrar o Aeroporto de Flores. Desde lá a Estatal vem pressionando o Aeroclube para sair das instalações, cobrando taxas e aluguéis, que nunca foram pagos e agora geraram uma dívida de quase R$ 500 milhões.
Com o acordo, a Infraero vai cobrar R$ 15 mil pelo aluguel das salas e hangares até que a diretoria da ACA se retire e encontre um novo lugar para funcionar a única Escola de Aviação de toda a Região Norte.

