O levantamento nacional, coordenado pelo Instituto Data Favela e com apoio da Central Única das Favelas (CUFA), já ouviu mais de 5 mil pessoas em 22 estados. No Amazonas, centenas de entrevistas estão sendo realizadas em favelas da capital. Entre os questionários aplicados, surgem perguntas que vão muito além da relação com o crime.
O levantamento busca compreender desejos de consumo de roupas e veículos a plataformas de streaming, preferências por programas jornalísticos e emissoras, além de sonhos ligados à formação universitária. As entrevistas também percorrem o campo afetivo das pessoas envolvidas com o crime, bem como revelará quem são as pessoas mais amadas pelos participantes, os motivos que os levaram a entrar no tráfico e o que os mantém nesse universo.
Trata-se de uma escuta íntima, que aproxima o país das subjetividades e humaniza trajetórias frequentemente resumidas apenas a estigmas e estatísticas nas quais são inseridas as pessoas envolvidas com o crime.
“Ouvir essas pessoas foi impactante. São histórias de sobrevivência, dores, mas também de esperança. A pesquisa mostra que, por trás de cada estatística, existe um ser humano que deseja oportunidades, segurança e dignidade. Isso pode ajudar a construir políticas públicas mais sensíveis e efetivas”, destaca o presidente da CUFA Amazonas, Alexey Ribeiro.
A mobilização no Amazonas conta com equipes treinadas para atuar com ética, segurança e respeito, seguindo protocolos adaptados à complexidade do campo. As entrevistas são registradas por aplicativo próprio e acompanhadas em tempo real por uma central de apoio.
“Quando falamos de tráfico, muita gente só enxerga violência. Essa pesquisa mostra outra face: famílias, mães, jovens que sonham, mas que foram empurrados para esse contexto por falta de alternativas. Humanizar essas pessoas é fundamental para que o Brasil enxergue a favela com mais justiça e menos preconceito”, disse a vice-presidente da CUFA Amazonas, Fabiana Carioca.
O cronograma da pesquisa prevê etapas até a divulgação final dos resultados. Até o dia 20 de setembro, segue em andamento o trabalho de campo em comunidades de todo o país. Entre os dias 21 de setembro e 2 de outubro, as equipes irão compilar os dados coletados e realizar uma análise bibliográfica. O lançamento da pesquisa nacional está marcado para o dia 15 de outubro.