O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) informou, nesta quarta-feira (03/09), a descoberta de 33 novas espécies de vespas achatadas, invisíveis aos olhos comuns.
De acordo com o órgão de pesquisa, a conquista é do jovem biólogo Leonardo Alho Gomes mostra que, no coração da floresta, ainda existem histórias escondidas à espera de quem dedica a vida a desvendá-las.
Um mergulho no universo das “vespas-achatadas” (ordem Hymenoptera, família Bethylidae) revelou um tesouro biológico oculto na Amazônia: 33 espécies nunca antes descritas pela ciência. A descoberta, feita pelo recém-mestre Leonardo Alho Gomes, egresso do Programa de Pós-Graduação em Entomologia do Inpa, não apenas amplia o inventário de insetos da região, mas também reforça que ainda há muito a se conhecer sobre o maior bioma tropical do planeta.
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Pequenas, discretas, mas fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas, as vespas da família Bethylidae atuam como parasitoides, ajudando a controlar populações de outros insetos, muitas vezes pragas agrícolas. “Eu escolhi trabalhar com Bethylidae, porque são vespas muito abundantes, mas ainda pouco estudadas na Amazônia e que precisam de mais atenção para que possamos compreender melhor sua diversidade e importância”, comenta Leonardo.
O gênero Pseudisobrachium Kieffer, 1904, é globalmente distribuído, presente em todas as principais regiões biogeográficas, exceto nas regiões polares. Atualmente, são cerca de 194 espécies formalmente reconhecidas, sendo 61 descritas no Brasil, a maioria com estudos concentrados no bioma Mata Atlântica. Apesar de sua ampla distribuição e presença frequente em coleções biológicas de museus, trata-se de um dos gêneros mais negligenciados taxonomicamente dentro de Bethylidae, especialmente na Amazônia brasileira.
“Essa aparente restrição pode estar ligada à falta de estudos, elas podem existir em mais lugares, mas ainda não foram registradas. Antes do nosso trabalho, só se conheciam quatro espécies na Amazônia”, afirma o mestre.
O processo de identificar e confirmar novas espécies dessas vespas é fruto de uma análise detalhada da morfologia desses insetos, desde o formato da cabeça até as estruturas reprodutivas. No gênero Pseudisobrachium, a forma do clípeo — uma estrutura na cabeça situada entre as antenas e as mandíbulas — é importantíssima para distinguir as espécies, pois cada uma tem traços únicos, e na Amazônia, as espécies apresentam características que não aparecem em outras regiões.
Para chegar a essas conclusões, Gomes contou com o apoio de seus orientadores, Alexandre Somavilla, docente do Programa de Pós-Graduação em Entomologia do Inpa e Wesley Colombo, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e o acesso a importantes coleções científicas, como a do Inpa, tendo como curador o Dr. Marcio Luiz de Oliveira, da UFES e Museu Paraense Emílio Goeldi. “Sem as coleções, esse trabalho não teria sido possível. Elas guardam exemplares coletados ao longo dos anos e são verdadeiros guardiões da biodiversidade”, reforça Gomes.
A descoberta, além de representar um avanço significativo no estudo de um grupo historicamente negligenciado, evidencia a grande lacuna de conhecimento sobre os insetos da região, já que algumas espécies parecem restritas a áreas específicas (localidades-tipo), mas essa limitação pode estar associada apenas à escassez de pesquisas sobre esse assunto. “Essa descoberta mostra que ainda há muito a conhecer sobre a biodiversidade amazônica e reforça a importância de estudar e proteger nossa biodiversidade. Afinal, a floresta guarda muitas histórias que ainda nem começamos a contar, e cada espécie nova é uma peça essencial desse complexo quebra-cabeça da vida”, conclui o recém-mestre.
Fotos: Ana Clara Bittencourt/ Ascom Inpa e Leonardo Gomes/ Acervo Pessoal.