A escrita sempre esteve presente como parte do processo criativo da multiartista Rakel Caminha, que agora lança o livro “Territórios de Mim” no dia 06 de setembro (sábado), às 11h, no Palácio da Justiça, localizado na Avenida Eduardo Ribeiro, 901, Centro. Essa prática, que começou como algo natural e íntimo, acabou influenciando toda a concepção e estética da obra, que reúne 40 poemas ilustrados.
Ela lembra que esse diálogo entre palavra e imagem já se apresentava em “Tatuagem”, exposição realizada por ela em 2017 na galeria do SESC-AM. “Quem passou por lá pôde ter contato não só com obras visuais na técnica da colagem, mas também com poemas que os complementavam. A proposta era justamente trazer uma característica transmídia para a exposição. Unir imagem e palavra para criar outros, novos caminhos, interpretações, expandir reflexões”.
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Das exposições à poesia
Esse movimento se aprofundou em projetos como “Tatuagem” e “Mulher-Folha”. “Foi em Tatuagem’ que eu comecei, de fato, a misturar escrita com imagem. Antes, tratava como coisas separadas. Tinha blog, participava de algumas publicações coletivas, já trabalhava com texto publicitário, mas tratava como algo separado, mesmo. Em ‘Tatuagem’, e também em ‘Mulher-Folha’, a poesia já era bem mais presente. Não só na forma visual, mas na palavra. Creio que foi como um transbordamento natural. A palavra nasce porque precisa. Porque pulsa, como raízes que crescem por dentro, e se expandem”, afirma Caminha.
A partir daí, a escrita tomou cada vez mais espaço na vida de Rakel. “Depois dessas duas exposições, que já levavam textos meus, surgiu o desejo de escrever um projeto que reunisse tudo isso num livro de poemas ilustrados. A partir daí, foi só unir o que eu já tinha produzido. A coisa já estava viva, por dentro. Era só dar forma, entregá-la ao mundo”.
“Territórios de Mim” reúne um mosaico de temas. “Explora impressões cotidianas, reflexões sociais, dores, delícias ou simplesmente o voo de minhas borboletas internas. Tem poemas críticos, sociais, mas também momentos onde o eu lírico passeia pela madrugada escura, colorindo-a com vida.”
O título traduz essa experiência. “Escolhi o nome ‘Territórios de Mim’ porque acredito que todos os poemas são como um passeio pela geografia do íntimo. Do que sinto; e que acredito que, muitas vezes, seja um sentimento universal, compartilhado”, prioriza ela.
Se a escrita pulsa, as imagens potencializam. “Acredito que as ilustrações complementam a poesia presente nos poemas. Ultrapassam o caráter ilustrativo, convidam o público a (re)criar sua interpretação sobre o tema. Deixar a imaginação correr solta…”, complementa.
Uma ficha técnica 100% feminina
Um dos pontos mais significativos do projeto é a equipe inteiramente formada por mulheres. “Significa viabilizar um espaço onde vozes e personalidades femininas ecoem e exerçam seus talentos, cada uma dentro de sua função cultural. Hoje, vê-se mais mulheres produzindo, felizmente. Meu desejo é que este número aumente. Que mais mulheres tenham espaço de protagonismo em projetos culturais, nas artes, na literatura. É tempo de ouvir suas vozes”, adianta Rakel.
A escritora faz questão de ressaltar o apoio das “Enluaradas”, coletivo de escritoras com quem compartilha trajetórias e afetos. “Encontrei nelas este apoio. Escritoras potentes, mulheres geniais como Rita Alencar Clark (prefaciadora do livro), Myriam Scotti (orelha do livro), Marta Cortezão, Sandra Godinho, Deborah Bacelar, Tina Gama, entre tantas; todas elas, escritoras pulsantes e mulheres maravilhosas. Sou honrada de viver no mesmo tempo que elas”, celebra.
Para reunir mulheres de diferentes idades, crenças e raças em posições de liderança, o processo trouxe mais aprendizados que obstáculos. “Acho que houve mais aprendizado que desafios. Desafios são comuns a qualquer novo projeto. Mas eu tenho um time de mulheres muito únicas. Foi elas que seguraram minha mão e me apoiaram para que isso tudo fosse possível. Entre elas, Rita Alencar Clark, quem considero minha madrinha na literatura, e Virna Lisi, curadora deste projeto, e que me ajudou em muitos detalhes do lançamento”.
A obra nasce também como gesto político. “Este livro é isso. Ele significa fortalecer a presença da mulher na literatura, nas artes visuais. Uma mulher produzindo, uma artista do Norte que se reafirma e reinventa no fazer artístico, é um ato revolucionário, não?! Quando a voz de uma mulher ecoa, ela cria caminhos para que as vozes de outras mulheres ecoem também”, afirma a escritora.
O desejo de Rakel é que “Territórios de Mim” emocione e dialogue com todos os públicos. “Espero que as pessoas se emocionem. Esse é um livro para todos os públicos. É para quem gosta de literatura, para quem gosta de artes visuais… para quem gosta de cultura, de uma forma geral. É um passeio por pensamentos, batimentos cardíacos, veias pulmonares. E o eu lírico é o guia”.