Moradores da comunidade Santo Antônio, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, em Novo Airão, interior do Amazonas, denunciaram à TV Amazonas, afiliada da Rede Amazônica, que a organização não governamental norte-americana Global Thinkers Now estaria utilizando fotos e vídeos de ribeirinhos sem consentimento. Segundo os relatos, o material é divulgado na internet para solicitar doações em dólares, mas o dinheiro não chega à comunidade.
A ONG, mantida por missionários ligados à Igreja Adventista e sediada nos Estados Unidos, é administrada por Beatriz Augusta e Robert Ritzenthaler. Conforme os moradores, líderes comunitários também passaram a receber ameaças e intimidações de seguranças contratados pela entidade. A reportagem tentou contato por telefone e e-mail com os responsáveis, mas não obteve resposta.
LEIA TAMBÉM: Aberta seleção para venda de produtos na feira gastronômica do #SouManaus 2025
A vice-presidente da comunidade, Marineuza Miranda Pontes, relatou ter descoberto que sua própria imagem estava entre as utilizadas.
“A gente se sentiu lesado. A gente via que eles estavam crescendo. Não que isso gerou orgulho ou inveja pra gente, não. O que a gente queria é que os comunitários também fizessem parte disso. Que eles se desenvolvessem junto com eles. Essas fotos mostram aí”, disse.
O conflito teria começado em 2015, quando a Associação de Produtores Agrícolas de Santo Antônio doou um terreno de 5 mil m² à ONG para construção de uma casa de apoio, mediante promessa de benefícios aos ribeirinhos. Moradores alegam que, no local, foram erguidas casas de alto padrão e houve desmatamento.
“Para planar terra, desmataram o mato. Aí tinha todo tipo de vegetação. Se andar ao redor, vai ver itaúba, louro, pé de angelim. Tudo na área onde não foi desmatado. Esses tipos de madeira tinham nessa área onde foi desmatado”, afirmou Elino Miranda.
O secretário de Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira, informou que a ONG foi multada em quase R$ 60 mil e as construções, interditadas.
“Nessa ocasião, foi lavrado um termo de embargo e interdição, […] uma vez encaminhada a defesa, será analisado e os órgãos de fiscalização retornam através do embargo lavrado e efetivamente atendido”, explicou.
A disputa segue na Justiça, que concedeu liminar proibindo intervenções no imóvel. A Defensoria Pública do Amazonas passou a representar os moradores.
“Uma RDS, na verdade, é uma área pública, é uma área de preservação ambiental. Ela não pode ser destinada a uso e moradia de pessoas que não comunidades tradicionais”, destacou a defensora pública Daniele Fernandes.
*Com informações do G1 Amazonas