Tarifas dos EUA podem afetar importações e competitividade da Zona Franca de Manaus, aponta Cieam
O Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) divulgou uma projeção indicando que as novas tarifas anunciadas pelos Estados Unidos devem gerar efeitos mais significativos sobre as importações do que nas exportações da Zona Franca de Manaus (ZFM). Segundo a instituição, o impacto direto sobre as vendas externas da região tende a ser limitado, considerando a baixa participação do Amazonas no comércio exterior com o mercado norte-americano.
Dados recentes mostram que o Brasil exporta anualmente cerca de US$ 40 bilhões para os EUA, com destaque para o estado de São Paulo, que responde por US$ 13 bilhões desse total. O Amazonas, por outro lado, ocupa a 18ª colocação, com exportações em torno de US$ 99 milhões. Essa diferença evidencia a menor dependência do Polo Industrial de Manaus (PIM) em relação ao mercado americano, o que reduz os efeitos imediatos das medidas tarifárias sobre as exportações locais.
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Apesar disso, o Cieam alerta que os desdobramentos podem ocorrer de forma indireta, dependendo da reação de outros países e da reorganização de cadeias produtivas internacionais. Luiz Augusto Rocha, presidente do Conselho Superior do Cieam, destaca que o aumento das tarifas pode desencadear um movimento global de reposicionamento comercial, afetando o Brasil conforme sua atuação nesse novo cenário.
Empresas estrangeiras têm absorvido parte dos custos adicionais para manter sua presença no mercado consumidor dos Estados Unidos, evitando aumentos imediatos de preços para os consumidores americanos. Essa estratégia fortalece a política tarifária dos EUA sem gerar pressão inflacionária doméstica.
Segundo o Cieam, os Estados Unidos parecem utilizar esse modelo para negociar concessões comerciais bilaterais, premiando países dispostos a ceder em determinadas áreas e penalizando aqueles que resistem. Tal postura pode comprometer acordos multilaterais e estimular a criação de novas alianças comerciais internacionais.
Para o Brasil, os riscos potenciais incluem o desvio de comércio — com outros países buscando mercados alternativos e aumentando a concorrência interna — e a necessidade de rever sua posição em acordos bilaterais. Por outro lado, podem surgir oportunidades para ampliar as exportações, caso o país consiga ocupar espaços deixados por nações impactadas pelas tarifas americanas.
No que diz respeito às importações, o impacto tende a ser mais direto. O Polo Industrial de Manaus depende significativamente de insumos vindos dos Estados Unidos, principalmente no setor termoplástico. Em 2024, foram importados aproximadamente US$ 600 milhões em polímeros, considerados essenciais para a produção local.
A possibilidade de o Brasil adotar medidas de retaliação pode elevar tarifas de importação, aumentando os custos de produção e afetando a competitividade das indústrias instaladas na ZFM. Neste contexto, o modelo da Zona Franca se destaca como uma ferramenta estratégica para compensar parcialmente as consequências das medidas protecionistas adotadas no exterior.