Manaus vivencia uma mudança significativa no cenário do forró. Enquanto os estilos forró de galeroso e forró funk dominam muitas casas noturnas, um movimento de resgate das origens do forró pé de serra tem ganhado força na capital amazonense. Inaugurado em março de 2025, o Pé de Serra do Lulu nasceu no bairro Flores, na zona Centro-Sul, e proporciona todas as sextas-feiras um espaço onde os forrozeiros possam vivenciar o forró tradicional.
O Pé de Serra do Lulu é comandado por Lucivaldo Lopes, conhecido como Lulu, e promovido por Wagner Tiburtino, da página Forró de Manaus. Juntos, como sócios, eles impulsionam esse resgate cultural, que promete transformar a forma como a cultura forrozeira é vivida na capital amazonense.
“Antigamente, o público saía de casa para dançar. Hoje, muitos lugares foram reduzindo os espaços, lotando com mesas e priorizando a venda de bebidas. No Pé de Serra do Lulu, garantimos um ambiente onde a dança tem prioridade e todos podem se movimentar livremente”, afirma Lulu.
Um dos grandes destaques do Pé de Serra do Lulu é que não há pausas longas nem conversas prolongadas no palco: o forró começa e segue até as 4h da manhã, sem interrupções. “Nosso objetivo é manter o forró dançante do começo ao fim. As bandas que se apresentam já sabem que aqui não há intervalos extensos, e quem vem ao nosso espaço vem para dançar”, explica Wagner Tiburtino.
Para Thiago Rangel, frequentador assíduo, o espaço se destaca pela valorização da dança e pelo ambiente amplo e ventilado. Segundo ele, um dos maiores problemas de outras casas de forró é a falta de espaço para dançar, já que muitas priorizam mesas e cadeiras, dificultando a movimentação dos frequentadores.
“Os donos do espaço são forrozeiros, então sabem exatamente o que o público gosta e priorizam isso. O forró é dançante, então precisa de espaço para dançar”, ressalta Thiago.
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O Pé de Serra do Lulu nasceu do sonho de Lucivaldo Lopes, que, desde os 12 anos, no bairro Tarumã, acompanhava o crescimento do forró em Manaus e desejava ter seu próprio espaço dedicado ao estilo tradicional. Com o tempo, começou a organizar eventos com amigos, que foram crescendo e se consolidando, até dar origem ao Pé de Serra do Lulu. O espaço atrai hoje um público diverso, incluindo frequentadores de antigas casas de forró, usuários de cadeira de rodas e pessoas de todas as idades, que encontram ali um ambiente acolhedor e seguro.
“Desde a inauguração, o espaço tem sido um ponto de encontro para quem ama o forró autêntico. Como dançarinos, sentimos na pele as mudanças no ritmo e percebemos que o forró estava tomando outro rumo. Por isso, decidimos criar um espaço onde pudéssemos manter a essência do forró pé de serra. Hoje, no Pé de Serra do Lulu, você pode encontrar pessoas de todas as idades, incluindo muitos frequentadores antigos, de até mais de 70 anos, assim como cadeirantes e outros admiradores do forró tradicional”, destaca Lulu.
Em meio à popularização de estilos como o forró de galeroso e o forró funk, o espaço surgiu com a missão de resgatar as origens do forró, permitindo que novas gerações conheçam e vivenciem o ritmo autêntico.
“Manaus já não tinha mais um espaço que resgatasse o som antigo do forró. Hoje, muitos estilos não permitem dançar tanto, e quem saía de casa para dançar não encontrava mais um ambiente adequado. No Pé de Serra do Lulu, inovamos na estrutura dos espaços, garantindo que as pessoas possam dançar livremente e se sentir à vontade”, lembra Wagner, que também é músico premiado e doutorando em Música pela UNICAMP.
Espaço promete resgate das origens do forró
Com a crescente valorização do forró tradicional, espaços como o Pé de Serra do Lulu têm se tornado referência para quem busca um ambiente onde a dança e a música são os protagonistas, atraindo tanto jovens quanto veteranos do forró. Para Jorge Viana, de 65 anos, esse movimento representa um verdadeiro resgate cultural e um retorno à essência do forró.
“Moro nesta terra há 40 anos. Sou casado com uma amazonense há 35 anos. Adoro festa, adoro forró. E essa casa aqui caiu do céu! Toda semana estou aqui e me divirto muito. É um lugar familiar, só entre amigos. É diferenciado”, disse Jorge.
A casa de forró também se destaca por oferecer um espaço acessível para pessoas com deficiência, como é o caso de Jean Cabral, que tem deficiência visual e considera que dançar forró não é apenas um hobby, mas um ato de inclusão e liberdade.
Ao chegar em Manaus, vindo de Rondônia, Jean percebeu que a cidade respirava forró e decidiu encontrar um espaço onde pudesse se sentir acolhido. Foi assim que descobriu o Pé de Serra do Lulu, um ambiente que lhe proporcionou segurança e acessibilidade. “Busquei alguns lugares, mas aqui foi onde me senti acolhido. A inclusão no forró é isso! Eu não tenho um sentido, que é a visão, mas o restante funciona bem”, brinca.
Ex-professor, Jean hoje atua como massoterapeuta e reforça a importância da inclusão na sociedade. “A pessoa pode não ter um sentido, mas deve viver normalmente como qualquer ser humano. Somos pessoas normais, e é isso que precisamos mostrar. Se nos escondemos em casa, ninguém nos vê. Temos vida, e eu danço igual—ou até melhor—do que muitos por aí!”, finaliza.