Em uma cena de impacto visual que impressionou o público presente na abertura do 58º Festival Folclórico de Parintins, o Boi Caprichoso ignorou recomendações expressas do Ministério Público do Trabalho do Amazonas e Roraima (MPT AM/RR) e levou ao Bumbódromo o uso de guindastes para içamento de pessoas e elementos cênicos.
Na noite de sexta-feira (27), o boi azul surgiu do alto, acompanhado pelo levantador de toadas Patrick Araújo e o apresentador Edmundo Oram, todos içados por um guindaste posicionado ao lado da arena. A cena marcou a abertura da primeira noite do festival, em um espetÔculo que também contou com uma alegoria de mais de 30 metros, sobre a qual a cunhã-poranga Marciele Albuquerque iniciou sua apresentação. Ela desceu até o chão para evoluir ao lado do pajé Erik Beltrão, em uma performance que mergulhou o público na espiritualidade da toada.
JĆ” no encerramento, uma āonƧa voadoraā tambĆ©m foi iƧada por guindaste e desceu atĆ© o centro da arena. Em meio a efeitos pirotĆ©cnicos e Ć interpretação da toada āMothokariā, a onƧa foi responsĆ”vel por conduzir a porta-estandarte Marcela Marialva ao solo do Bumbódromo.
O uso dos guindastes, no entanto, Ć© alvo de forte controvĆ©rsia. Em entrevista ao portal Segundo a Segundo, a assessoria do MPT informou que a procuradora do trabalho FabĆola Bessa Salmito de Almeida estĆ” fazendo verificaƧƵes sobre o ocorrido e que uma decisĆ£o judicial poderĆ” ser anunciada na segunda-feira (30). O caso segue sob investigação em primeira instĆ¢ncia.
LEIA TAMBĆM: Guindaste no Festival de Parintins somente sem pessoas e longe das torcidas, diz MPT
JustiƧa autorizou uso parcial
O impasse teve inĆcio ainda em 15 de junho, quando o MPT soube pelas redes sociais que o Caprichoso pretendia utilizar guindastes em suas apresentaƧƵes ā algo que havia sido negado pela associação durante fiscalização anterior. A descoberta levou o MPT a ingressar com ação civil pĆŗblica pedindo a interdição total do uso de guindastes e equipamentos de iƧamento de pessoas por ambas as associaƧƵes folclóricas (Caprichoso e Garantido).
A decisĆ£o judicial proferida em 25 de junho autorizou, de forma parcial, o uso desses equipamentos, mesmo diante das irregularidades tĆ©cnicas apontadas por peritos e pela própria Procuradoria do Trabalho. Segundo o MPT, o Caprichoso nĆ£o atendeu aos requisitos mĆnimos de seguranƧa nem apresentou documentação essencial a tempo, como o manual do fabricante do guindaste ā que, inclusive, proĆbe expressamente o uso para iƧamento de pessoas em espetĆ”culos.
“A omissĆ£o da Associação Cultural Caprichoso Ć© grave e pode trazer prejuĆzos Ć seguranƧa das pessoas que estĆ£o trabalhando. Mesmo assim, a JustiƧa permitiu parcialmente o uso de equipamentos que nĆ£o cumprem as normas de seguranƧa”, declarou a procuradora FabĆola Bessa. āĆ alarmante.ā
Corpo de Bombeiros sob crĆticas
O Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas tambĆ©m foi criticado. Segundo a procuradora, a corporação apresentou apenas um checklist, sem realizar fiscalização adequada ou exigir documentação completa. “O manual do guindaste nĆ£o estava entre os documentos entregues, e o Bombeiro se limitou a declarar que tudo estava em ordem. Isso nĆ£o corresponde Ć realidade”, afirmou FabĆola.