Um acordo judicial inĂ©dito no paĂs reconheceu oficialmente o direito de permanĂȘncia da Comunidade Quilombola do Tambor em seu territĂłrio tradicional, localizado dentro do Parque Nacional do JaĂș, entre os municĂpios de Novo AirĂŁo e Barcelos, no Amazonas. A medida representa um marco histĂłrico na compatibilização entre direitos de comunidades quilombolas e a preservação ambiental em unidades de conservação de proteção integral.
O entendimento foi firmado entre o MinistĂ©rio PĂșblico Federal (MPF), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma AgrĂĄria (Incra), encerrando uma ação civil pĂșblica movida pelo MPF desde 2014. O acordo foi oficializado durante uma audiĂȘncia pĂșblica realizada na Ășltima terça-feira (10), com a presença de representantes da comunidade quilombola do Tambor e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) Amazonas.
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Pelo acordo, os quilombolas poderĂŁo permanecer no interior do parque sem a necessidade de exclusĂŁo da ĂĄrea da unidade de conservação. A regularização fundiĂĄria serĂĄ feita por meio de um Contrato de ConcessĂŁo de Direito Real de Uso (CCDRU), garantindo segurança jurĂdica Ă comunidade e respeitando os objetivos de conservação da biodiversidade.
âO MPF vai seguir garantindo que seja possĂvel dar vida ao que a Constituição determina, que Ă© a garantia da proteção ambiental e dos direitos territoriais e culturais dos quilombolas do Tamborâ, afirmou o procurador da RepĂșblica Eduardo Sanches. Ele tambĂ©m destacou que os modos de vida tradicionais dessas populaçÔes nĂŁo devem ser vistos como ameaças ao meio ambiente, mas como parte da solução para sua proteção.
A Comunidade Quilombola do Tambor habita a região hå mais de 100 anos, em harmonia com a floresta. Com a criação do parque em 1980, surgiram conflitos com os órgãos gestores da unidade, culminando na tentativa de remoção da comunidade em 2014. Desde então, o MPF atuou para garantir os direitos constitucionais dos moradores.
A medida representa uma solução exemplar para situaçÔes semelhantes na AmazĂŽnia e em outras regiĂ”es do paĂs, onde comunidades tradicionais vivem dentro de ĂĄreas protegidas. O reconhecimento dos quilombolas como aliados da conservação representa uma mudança de paradigma na gestĂŁo ambiental e na valorização da diversidade cultural brasileira.