Jeferson Araújo Pereira, de 30 anos, e sua filha, Ester Amorim, de 8 anos, morreram em janeiro deste ano, na rua 9 do conjunto residencial Hileia, no bairro Redenção, na zona Centro-Oeste de Manaus, vítimas de deslizamento causados após as fortes chuvas que alagaram boa parte da cidade. Soterrados e abraçados, não tiveram chance de sair da área de risco.
Vivendo de promessas, a capital do Amazonas está muito longe de proteger a vida da população menos favorecida, vítima da falta de planejamento, da falta de prevenção e alvo das encostas onde casas ou barracos são construídos e viram bombas-relógio prontas para explodir.

Passados quatro meses da morte de pai e filha, nossa equipe de reportagem foi atrás da Prefeitura de Manaus para saber o que foi feito desde então. Pressionado pelas imagens dos corpos retirados dos escombros e pela oposição, o prefeito David Almeida (Avante) disse em março deste ano que compraria radares para prever chuvas.
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Em único dia, a Defesa Civil municipal chegou a atender 79 chamados por conta das chuvas, incluindo outro deslizamento na rua da Paz, na Fazendinha, que matou a líder Sammya Costa Macial, de 45 anos, enquanto ela ajudava vizinhos a fugir da área de risco.

Vamos nos antecipar com a tecnologia e a informação”, afirmou David, destacando que em março “choveu demais”

Na época o prefeito ainda citou emendas do senador Eduardo Braga, buscando recursos que somam R$ 100 milhões para obras de contenção.
Em relação às áreas de risco, o prefeito disse que Manaus tem hoje mais de 1.650 pontos mapeados, sendo que 644 delas de risco (nível 3 e 4), os maiores na escala.
E reforçou que a Prefeitura notificou essa população, que segue nas residências e dão sinal claro de que novas tragédias anunciadas estão por vir.
ALERTA SEM SOLUÇÃO
Esta semana a Prefeitura de Manaus decidiu instalar placas de alerta em áreas classificadas como R3 e R4, ou seja, de risco alto e muito alto para deslizamentos e alagamentos.
De acordo com a Prefeitura, a “ação faz parte da política de prevenção e redução de desastres desenvolvida pela gestão municipal, com o objetivo de proteger vidas e garantir mais segurança às comunidades vulneráveis durante o período chuvoso”.
Para o engenheiro Frank Albert Araújo, vice-presidente Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape – AM), Manaus precisa mais do que alertas. Precisa de planejamento, ações estratégias que evitem o pior a cada chuva.
“A ação de fiscalização e manutenção, seja do poder público ou dos proprietários, é muito importante para a sociedade. Manaus tem áreas de risco mapeadas que precisam de um plano de ação para evitar outros acidentes”.
As placas começaram pelas zonas Centro-Oeste e Norte da capital, contemplando os bairros Redenção e Cidade Nova. Ao todo, 15 placas de sinalização serão instaladas nesta primeira etapa. Somente nesta quarta-feira, sete foram afixadas, sendo cinco no Cidade Nova, nas ruas Conde, da Benção (comunidade Fazendinha), Ladário (comunidade Fazendinha), P (travessa Lorena) e Itaberaba, e duas no Redenção, nas ruas Bispo de Hebrom e Macapá.
” A previsão é que até o final da operação sejam instaladas 100 placas em diferentes localidades da cidade”, diz a prefeitura.

Foto: Prefeitura de Manaus/ Divulgação
“Essa sinalização é uma importante ferramenta de conscientização. Ela orienta os moradores sobre os riscos do local em que vivem e reforça a necessidade de buscar abrigo seguro durante fortes chuvas. A prefeitura tem atuado de forma preventiva e nosso papel enquanto Defesa Civil é, justamente esse, antecipar e evitar acidentes”, destacou o secretário executivo da Defesa Civil de Manaus, Agnelo Batista de Lima Júnior.
Sem prevenção restará aos sobreviventes do próximo deslizamento remediar. Ficam as lágrimas e as recordações dos momentos de sofrimento como os que resultaram na morte de Sammya, contadas por amigos e testemunhas como o eletricista Josinei da Costa Macedo.
“Foi desesperador. Os dois últimos soterrados eram um homem e uma mulher. Ele foi resgatado primeiro e indicou a localização dela. Ela estava de bruços quando nós a encontramos e descobrimos primeiro a cabeça. Daí foi uma corrida contra o tempo. Nós tínhamos que cavar para tirá-la dali. Ela ainda tinha pulso. Nós cavamos com as mãos para resgatar ela”