Tarifa reajustada para R$6, batalhas na Justiça, greves, ônibus quebrados e projetos que nunca saíram do papel, como o BRT imaginário. Não é à toa que a população de Manaus reclama do sistema de transporte coletivo, considerado precário, caro e ineficiente.
Este ano, o perrengue chegou à Justiça e virou disputa política entre o prefeito David Almeida e vereadores de oposição. Depois de derrotas na justiça estadual, o prefeito apelou para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) até conseguir aumentar o valor pago para andar nos ônibus.
O presidente do STJ, ministro Herman Benjamin, acolheu parcialmente pedido do município de Manaus e suspendeu os efeitos de decisão liminar da Justiça do Amazonas que impedia o reajuste na tarifa do transporte público urbano da capital. Entre outras coisas, a justiça local argumentava que a prefeitura não apresentou dados detalhados sobre os custos do sistema que pudessem basear aumento tão severo.
Na decisão, o ministro não analisou as ponderações quanto ao mistério em torno dos custos do sistema e considerou, entre outros argumentos, que a interferência judicial no reajuste tarifário poderia comprometer as contas públicas, obrigando o município a remanejar recursos de áreas essenciais para manter os subsídios ao transporte.
A liminar foi mantida em segundo grau pelo Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), segundo o qual a suspensão era justificável em razão da ausência de documentos técnicos e da necessidade de preservar o interesse público.
Ao STJ, o município de Manaus alegou que a decisão do TJAM interferia indevidamente na política administrativa e tarifária da cidade, violando a autonomia municipal e os artigos 9º e 10 da Lei 8.987/1995, que trata da prestação de serviços públicos por concessão.
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Tarifa de ônibus de Manaus entre as mais caras do país
A gestão David Almeida também sustentou que a manutenção da decisão liminar traria impactos financeiros significativos. A alegação era de que a suspensão do reajuste resultaria em aumento de R$ 7,7 milhões por mês no subsídio pago ao sistema de transporte coletivo, o que poderia gerar um impacto total de mais de R$92 milhões aos cofres públicos até o final de 2025.
Em resumo, a prefeitura enfatizou que, de qualquer maneira, quem iria pagar a conta seria a população.

Valor da passagem de ônibus nas capitais brasileiras
- Florianópolis (SC) – R$ 6,90 (lidera o ranking; reajuste mais expressivo para pagamentos em dinheiro e QR Code)
- Curitiba (PR) – R$ 6,00 (R$ 6 nos dias de semana; R$ 3 em domingos e feriados)
- Manaus (AM) – R$ 6,00 (passou de R$ 4,50 para R$ 6,00)
- Belo Horizonte (MG) – R$ 5,75 (linhas convencionais) / R$ 2,75 (linhas curtas)
- Salvador (BA) – R$ 5,60 (de R$ 5,20 para R$ 5,60)
- Brasília (DF) – R$ 5,50 (viagens longas e acesso ao metrô; tarifas de R$ 2,70 e R$ 3,80 também vigentes)
- Boa Vista (RR) – R$ 5,50 (com subsídio)
- João Pessoa (PB) – R$ 5,20 (de R$ 4,90 para R$ 5,20) São Paulo (SP) – R$ 5,00 (após quatro anos sem aumento)
- Porto Alegre (RS) – R$ 5,00 (reajuste em 2025)
A LENDA DO BRT
Na gestão do ex-prefeito Arthur Neto, um projeto ganhou ares de revolução na cidade. O BRT foi a menina dos olhos do então político tucano, mas que acabou sepultado na Câmara Municipal de Manaus (CMM), em 2019.
O BRT seria legado da Copa do Mundo de 2014, mas nenhum metro de trilho foi colocado em terras manauaras.

“Não podemos viver reféns desta ‘fuleiragem’, porque estes empresários de transportes coletivos não têm respeito e compromisso com a população de Manaus. Eles chegam a faturar quase R$ 50 milhões por mês e não oferecem um transporte digno. Por isso, senhor prefeito, eu peço que o senhor rescinda estes contratos em respeito à população que espera isto do senhor”, disse o ex-vereador Cláudio Proença.
A obra idealizada na última passagem de Amazonino Mendes no comando da cidade virou tema de debate eleitoral, ganhou projeto, mas os R$ 290 milhões nunca caíram nos cofres da Prefeitura. Sobrou apenas a foto de Arthur Neto em Bogotá, na Colômbia, onde ele foi ‘estudar o modelo de BRT dos vizinhos’.
Hoje, com a terceira tarifa mais cara do Brasil, sobraram os ônibus em que as portas caem no meio da rua.