Manaus vai reviver uma parte essencial de sua história no próximo dia 17 de abril, quando o Balé Folclórico do Amazonas apresentará o espetáculo “Os Catraieiros” no Teatro da Instalação, às 19h, com entrada gratuita. A apresentação contará com tradução simultânea em Libras e audiodescrição, garantindo acessibilidade ao público. O Teatro da Instalação está localizado na Rua Frei José dos Inocentes, s/nº, Centro.
Inspirado no livro “Manaus: História e Arquitetura”, de Otoni Mesquita, o espetáculo traz à tona a memória dos catraieiros — trabalhadores ribeirinhos que, por décadas, conduziram as icônicas canoas pelos igarapés da capital amazonense, antes da construção das pontes que hoje conectam bairros como São Raimundo, Educandos, Cachoeirinha e Morro da Liberdade ao Centro Histórico.
O coreógrafo e pesquisador Eduardo Amaral, ao lado dos coreógrafos convidados Alessany Negreiros e Ítalo Brito, mergulhou no cotidiano desses personagens anônimos para dar vida a uma coreografia que é, ao mesmo tempo, homenagem e resgate. As cenas exploram as múltiplas funções das catraias — embarcações tradicionais oriundas de Portugal — em meio a festas, lendas e rituais da cultura amazônica.
Para a diretora artística do Balé Folclórico, Monique Andrade, o espetáculo cumpre um papel fundamental: “‘Os Catraieiros’ resgata histórias invisibilizadas e dá voz a personagens que ajudaram a construir a identidade urbana e cultural da nossa região. Cada movimento em cena carrega séculos de tradição, espiritualidade e saberes populares”, afirma.
Assim como os gondoleiros em Veneza, os catraieiros foram, por muito tempo, símbolos vivos da cidade de Manaus. E agora, sob os refletores do palco, seus feitos e memórias ganham nova vida diante do público — que não só assiste, mas sente e reconhece seu próprio patrimônio cultural.
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Catraieiros desapareceram com crescimento urbano de Manaus

O livro “Manaus: História e Arquitetura”, de Otoni Mesquita, serviu como base de pesquisa e fonte de inspiração para a criação do espetáculo “Os Catraieiros”. A obra mergulha no quotidiano dos condutores das grandes canoas – embarcações originárias de Portugal, que chegaram à região amazônica por volta do século XIX.
Na década de 1960, os bairros de São Raimundo e Educandos tornaram-se os principais pontos de concentração desses trabalhadores. Naquela época, a travessia dos igarapés era uma necessidade quotidiana, uma vez que ainda não existiam pontes que ligassem esses bairros ao antigo Centro Histórico de Manaus. Com o passar do tempo, à medida que as pontes foram sendo construídas, os catraieiros começaram a desaparecer gradualmente. Os últimos a encerrar suas atividades operavam a ligação entre os bairros da Cachoeirinha (na altura da Rua Maués) e o Morro da Liberdade (pela Rua São Benedito).
Tal como em Veneza, na Itália, os “gondoleiros” são símbolo da cidade com suas emblemáticas gôndolas, Manaus teve os seus “catraieiros”. Embora sem a mesma pompa, eram figuras fundamentais para o transporte e a vida urbana, atravessando os igarapés com as suas catraias muito antes da construção do moderno porto de Manaus.
“Cada movimento, ritmo e expressão em cena carrega séculos de tradição oral, espiritualidade e saberes populares. O público não apenas assiste, mas sente, reconhece e valoriza o seu patrimônio imaterial, aprendem, por meio da arte, sobre as suas raízes, enquanto artistas e criadores mantêm viva a chama da cultura ribeirinhas”, diz Monique Andrade.