“Imaginar um encontro entre Jandr Reis e Pablo Picasso na rua Itamaracá, zona centro-sul de Manaus, seria como montar uma miríade de quebra-cabeças, com imagens distintas que separam os artistas e, ao mesmo tempo, conectam o fazer artístico de Jandr Reis às obras de Picasso”. A afirmação de autoria da curadora artística Cléia Viana nos leva a refletir sobre a nova exposição do artista, “Picassianas Divas de Itamaracá”, que pode ser conferida no Mercado de Origem da Amazônia (MOA), em frente ao terminal da Igreja da Matriz.
Com visitas abertas ao público das 8h às 17h, até o dia 27 de março, “Picassianas Divas de Itamaracá” é uma oportunidade única de apreciar a arte de Jandr Reis que por meio de suas pinturas desta mostra dá voz às trabalhadoras sexuais da rua Itamaracá.
“Nesse contexto, esta exposição serve como instrumento de humanização dessa discussão e, essencialmente, faz uma reflexão sobre o tema, revelando que essas mulheres não são meramente figuras invisíveis e anônimas, mas mulheres com histórias de vida complexas que, em grande parte, distanciaram-se dos sonhos acalentados”, afirma Cléia Viana, responsável pela curadoria da exibição artística.
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Para Cléia Viana, a exposição fala sobre a construção de um novo olhar, quando Jandr Reis oferece a arte como suporte de visibilidade, emprestando sua voz às trabalhadoras sexuais daquela área.
Na rua Itamaracá, que significa ‘pedra que canta’ na língua Tupi, as atividades do trabalho sexual seguem no compasso do tempo, a reboque das complexas dinâmicas que incluem a desigualdade social, a ausência de oportunidades formais de emprego, o acesso limitado às políticas públicas, além de algumas escolhas pessoais. Assim, as ‘Divas’ de Jandr Reis não têm vida fácil; seus corpos nus evidenciam abraços que, com o mesmo sentimento das divas de Itamaracá, comprimem e fragmentam a figura humana”, analisa a curadora.
Ao trazer à tona essa narrativa, Reis rompe barreiras sociais e amplia a visibilidade das mulheres que convivem com essa realidade. “A arte deve ser um suporte de visibilidade e amplificação das vozes dessas mulheres, as ‘trabalhadoras do sexo’”, cita o artista.
Segundo Jandr Reis, “As Picassianas” já são pintadas por ele há 20 anos, e, depois de estudar e viajar pelo mundo, passando por exposições e visitando museus chegou a “Les Demoiselles d’Avignon”, quando sentiu a necessidade e inspiração para desenvolver a coletânea de quadros. “ ‘Les Demoiselles d’Avignon’ é considerada a obra que foi o marco inicial do Cubismo e uma das pinturas mais importantes de Picasso que revolucionou o mundo artístico. E ele buscou inspiração na Carrer d’Avinyó, famosa pelos seus bordéis e que apesar do nome Francês era uma rua localizada em Barcelona”, comenta.
O artista explica que a intenção é mergulhar nas sonoridades e nos contextos históricos de duas realidades: a rua D’Avignon, em Barcelona, um espaço marcado pela presença das prostitutas e que inspirou Picasso, e a Itamaracá, uma rua que traz as mesmas características e por sua vez, se entrelaça com o cotidiano do passado, do presente e quem sabe do futuro da cidade de Manaus. “Quero dar voz a essas mulheres, que muitas vezes são vistas apenas como sombras na história, mas que desempenham um papel fundamental na narrativa cultural e social local”, declara.
Jandr Reis diz que assim como Picasso retratou de forma crua e inovadora as mulheres que frequentavam e trabalhavam no universo da prostituição em um dos bairros mais emblemáticos de Barcelona, ele quis reinterpretar esse clássico através da sua ótica redimensionando o conceito de beleza e provocando reflexões sobre a marginalização dos “profissionais do sexo” que atuam nas áreas do centro da capital do Amazonas “Assim como Picasso buscou romper com as tradições, acredito que o papel da arte é desafiar estigmas e reconstruir narrativas”, avalia o artista.
Durante a exposição, um dos quadros da mostra será doado para a Associação de Redução de Danos do Amazonas (Ardam), presidida por Evalcilene Santos. O valor de sua venda será revertido de forma integral à associação.