Embora as importações ainda sejam responsáveis pela maior parte do acesso à cannabis medicinal (47%), as farmácias já correspondem a um terço (31%) dos meios utilizados pelos pacientes para obter os medicamentos, o que reduz a burocracia e acelera o início de tratamentos prescritos por médicos. Esses dados constam na nova edição do Anuário da Cannabis Medicinal, elaborado pela consultoria Kaya Mind, que também apontou que, em 2024, o Brasil alcançou 672 mil pacientes em tratamento com cannabis, um aumento de 56% em relação a 2023.
A cannabis medicinal refere-se ao uso terapêutico de substâncias derivadas da planta Cannabis sativa, conhecida popularmente como maconha. Dentre suas propriedades está o canabidiol (CBD), um composto não psicoativo com propriedades terapêuticas. O CBD é utilizado no tratamento de condições como epilepsia, dores crônicas, ansiedade, insônia e distúrbios neurológicos, sendo considerado seguro e não causador de dependência.
LEIA TAMBÉM: Beber café ao acordar faz mal? Sem comprovação, dúvida se espalha nas redes
Em Manaus, os medicamentos à base de canabidiol já podem ser encontrados em drogarias. A farmacêutica Vanessa Paiva, da rede Santo Remédio, explica que o acesso depende de autorização por meio de receita médica. “O paciente precisa passar por uma avaliação médica e, caso o profissional de saúde julgue necessário, ele prescreverá o medicamento. A prescrição deve seguir as normas da Anvisa, que regulamenta o uso desses produtos no Brasil”, detalha.
Efeitos colaterais da Cannabis Medicinal
Vanessa explica que efeitos colaterais podem ocorrer, já que se trata de um medicamento, mas variam de acordo com o organismo de cada paciente. Os mais comuns são tontura, sonolência, alterações no apetite e cansaço. Por isso, é fundamental que o uso seja acompanhado por um profissional de saúde. “Assim, é possível ajustar as doses e minimizar os riscos”, orienta.
Uma dúvida comum é se os medicamentos à base de CBD causam ou não dependência. A resposta é: não. O questionamento é frequente porque a cannabis também possui outro ativo, o tetrahidrocanabinol (THC), conhecido por seus efeitos psicoativos e pelo potencial de causar dependência. No entanto, o CBD isoladamente não causa vício nem sensação de ‘sedação’.
No Brasil, a cannabis medicinal é autorizada pela Anvisa desde 2015 para fins terapêuticos, sob condições regulamentadas. Medicamentos contendo compostos da planta, como o CBD, podem ser prescritos por médicos para tratar diversas doenças, desde que cumpram os requisitos legais de prescrição e aquisição controlada.
Em novembro de 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) validou o cultivo medicinal de cannabis por empresas. Os ministros consideraram juridicamente possível a concessão de autorização sanitária para plantio, cultivo e comercialização do cânhamo industrial (variação da Cannabis sativa com baixo teor de THC). A regulamentação agora depende da Anvisa, que deve editá-la em até seis meses.
Os preços dos medicamentos derivados da cannabis ainda são um desafio no acesso aos produtos, mas a popularização e a facilidade no acesso, inclusive em farmácias, podem ser um caminho para baratear seu custo, segundo especialistas.
“Os preços variam bastante dependendo do fabricante e da concentração do medicamento, mas geralmente ainda são considerados elevados. No entanto, é possível encontrar alternativas acessíveis, especialmente com a ampliação da oferta nas farmácias”, diz Vanessa.
A farmacêutica destaca que eventuais dúvidas sobre acesso ao medicamento e tratamentos podem ser tiradas com um profissional farmacêutico, habilitado para esse primeiro atendimento básico e posterior encaminhamento a um médico especializado.