Manaus é a capital com o menor número de agentes da Guarda Civil Municipal na ativa, segundo levantamento feito pela agência Fiquem Sabendo (FS), por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Com pouco mais de 300 guardas municipais, o efetivo é o menor entre 18 capitais brasileiras.
A proporção de guardas municipais por 100 mil habitantes, levando em consideração os dados do Censo 2022 do IBGE, mostram que a capital do Amazonas tem 17,7 mil guardas para cada 100 mil pessoas. Na região Norte, Manaus aparece com menos guardas civis que Boa Vista, a capital de Roraima. A liderança, nesse quesito, é de Campo Grande (MS), que possui taxa de 143,6. (Ver tabela abaixo)
O levantamento mostra, também, que das ao menos 20 capitais que possuem guardas municipais, 17 estão armadas – algumas com armas longas e com calibres usados comumente por forças policiais e militares. Manaus, inclusive, tem guarda armada. Entretanto, apenas 38 agentes podem portar arma, conforme a prefeitura.
A Fiquem Sabendo destacou que as propostas relacionadas às guardas civis constaram no discurso de vários candidatos às prefeituras de grandes cidades no país, da esquerda à direita do espectro político. A tenção maior às guardas se insere num contexto de alta preocupação dos brasileiros com a violência.
Para obter mais informações sobre a estrutura atual das guardas municipais (também chamadas de guardas civis ou metropolitanas), a agência fez pedidos de acesso à informação às 26 capitais brasileiras em abril, e quatro capitais não responderam: Cuiabá (MT), Macapá (AP), Teresina (PI) e Natal (RN).
Entre as 22 que responderam, muitas não informaram dados sobre o tipo e a quantidade de armas ou, ainda, o percentual de agentes com acesso a armamentos, alegando que o sigilo era necessário para a segurança dos servidores.
Delas, 20 possuem guarda municipal, enquanto outras duas, Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO), não têm esse órgão constituído.
Qual é a função da Guarda Civil?
A Constituição prevê que os municípios podem criar guardas destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações” – caso de escolas e praças municipais, por exemplo. Embora não sejam forças de segurança como as polícias, elas podem atuar “conjuntamente com órgãos de segurança pública”, segundo uma lei federal de 2014.
Desde então, várias cidades vêm ampliando as competências das guardas, como abordagens, revistas pessoais e prisões em flagrante. Isso vem acontecendo em um contexto de diminuição do número de policiais no país, conforme indicou recentemente estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
De 2013 para cá, conforme os dados obtidos pela Fiquem Sabendo, nove guardas municipais de capitais passaram a ter acesso a armas de fogo, elevando para 17 o total de órgãos municipais que disponibilizam armamento aos seus agentes.
São elas:
- Belo Horizonte (MG)
- Boa Vista (RR)
- Campo Grande (MS)
- Fortaleza (CE)
- Goiânia (GO)
- João Pessoa (PB)
- Maceió (AL)
- Manaus (AM)
- Salvador (BA).
Antes de 2013, guardas de, pelo menos, outras oito capitais já haviam tido acesso a armas, com algumas interrupções ao longo dos anos:
- Aracaju (SE)
- Curitiba (PR) – desde a Constituição de 1988
- Florianópolis (SC)
- Palmas (TO)
- Porto Alegre (RS)
- São Luís (MA)
- São Paulo (SP) – antes mesmo da Constituição de 1988 ainda em 1986
- Vitória (ES)
A maioria tem mais da metade do seu efetivo com acesso às armas.
Duas prefeituras informaram que suas guardas municipais não possuem armas, Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ) – esta última tem o maior número de agentes do país. Já a prefeitura de Belém (PA) não confirmou o efetivo de guardas ou se emprega arma de fogo no patrulhamento.
Das 17 capitais que confirmaram, via LAI, terem a Guarda Civil armada, 7 informaram o uso não apenas de armas curtas, como pistolas e revólveres, mas também de armas longas, como espingardas e carabinas: Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Curitiba (PR), Goiânia (GO), Porto Alegre (RS), São Luís (MA) e São Paulo (SP).
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Duas delas – Curitiba e São Paulo – ainda disponibilizam fuzis para seus efetivos, mas não informaram quantas armas possuem dessa categoria.
As demais optaram por não indicar o armamento empregado na atividade de guarda, alegando sigilo por questões de segurança de seus agentes.
As diferenças entre as categorias de armamento estão diretamente relacionadas ao seu uso. Enquanto as armas curtas são mais fáceis de transportar e manusear em espaços confinados, por serem projetadas para serem usadas com uma mão e terem alcance mais limitado, as armas longas são empregadas em situações de tiro à longa distância. Elas são empunhadas com ambas as mãos e possuem maior alcance.
Entre as armas curtas, uma diferença importante, além do mecanismo de funcionamento e da capacidade de munição – as pistolas são semi-automáticas e possuem pentes que armazenam mais cartuchos do que os tambores dos revólveres –, é o calibre.
Comum em pistolas adquiridas por algumas prefeituras, o calibre 9mm tem maior capacidade transfixante do que os calibres .38 (revólveres), .380 e .40 (pistolas). Essa característica se refere ao poder de penetração de um projétil ao atravessar um alvo, como barreiras ou o corpo humano. Quanto maior a capacidade transfixante, maior a probabilidade de o projétil perfurar tecidos ou superfícies com mais profundidade, podendo continuar sua trajetória mesmo após atravessar o alvo em curtas distâncias.
São Paulo, Goiânia, Boa Vista e Curitiba confirmaram o uso do calibre 9mm pela Guarda Civil Municipal – que, lembremos, foram criadas para a proteção de bens, serviços e instalações do município.
Entre as armas longas, a principal distinção entre carabinas e espingardas para fuzis é o tipo de munição que é usada e como é usada. O fuzil é uma arma longa com cano raiado que dispara projéteis de alta velocidade em longas distâncias – em outras palavras, para acertar alvos distantes do atirador. É uma arma de combate usada por forças armadas militares e, em alguns casos, policiais.
Outra diferença entre as armas longas está relacionada ao calibre. O calibre 5.56mm, usado em fuzis adquiridos pelas guardas, dispara projéteis de alta velocidade com grande poder de penetração, mesmo contra alvos a longas distâncias. Já o calibre 12, usado em espingardas, dispara projéteis múltiplos de menor diâmetro, que se espalham ao redor do alvo, sendo mais eficaz a curta distância e com menor capacidade de transfixação.
Com informações da Agência Fiquem Sabendo