No próximo dia 22 de janeiro o artista amazonense Adanilo estreia no remake da novela Renascer, que vai ocupar a faixa nobre de novelas da TV Globo. Releitura da obra de Benedito Ruy Barbosa, a trama foi sucesso no país em 1993 e, dessa vez, será adaptada por Bruno Luperi.
Criado no bairro da Compensa, Adanilo dará vida ao personagem Deocleciano, que contracena com o protagonista, José Inocêncio, vivido por Humberto Carrão, o poderoso fazendeiro que nos anos 90 foi papel de Leonardo Vieira na fase jovem e Antônio Fagundes na fase adulta.
Adanilo entra em 2024 após um ano onde viu sua arte nos principais streamings do país com filmes e séries celebrados inclusive no Festival de Cannes, o maior evento de cinema do mundo.
“Acho muito bonito estar fazendo uma novela.
Conheço minha história, de onde eu vim, então poder ocupar um espaço como a novela das nove, que a gente sabe que é o horário nobre, o horário mais assistido da televisão brasileira (…) É grandioso e eu vejo que não estou sozinho, além de mim tem outros parentes e parentas indígenas fazendo a novela também, isso é um marcador legal”, conta o ator que pauta em sua presença a retomada indígena onde compartilha lutas e a demarcação de telas com outros pares.
“Vamos fazer personagens que não necessariamente falam de temáticas indígenas, para além dos esteriótipos, isso é muito bonito ver acontecer numa novela das nove”, enfatiza Adanilo que também irá contracenar com o rapper Xamã, que estreia como ator na novela e também se identifica como indígena em luta de retomada.
A geração artística de Adanilo estabelece um momento de não-retorno para as artes na Amazônia, onde ainda que com estruturas insuficiente, os artistas conseguem alcançar patamares de destaque para sua atuação.
“Estamos vivendo um momento sem volta. Eu enquanto artista da periferia de Manaus, do Norte, me vejo sendo muito celebrado. Ainda é um momento de entendimento, ainda falta fazer muito para que as coisas sejam melhores compreendidas, para que esses estigmas que tentam colocar na gente, ser amazônico, indígena, periferia, tudo que pensam da gente ainda é equivocado mas as portas já estão abertas e me vejo tendo a honra de ocupar espaços que muito de nós não puderam, me vejo acompanhado”, destaca.
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Quando questionado sobre o acolhimento por parte da estrutura global em sua presença, a palavra compreensão é o destaque.
“Tem uma compreensão muito grande pela equipe, a estética do Deocleciano, a estética da novela como um todo. Acho que esse trio formado por mim, Humberto Carrão e Evaldo Macarrão, Deocleciano, Jupará e Zé Inocêncio, de algum jeito eu vejo nele essa representação pelo menos masculina do que é ser uma pessoa no Brasil”, reflete o ator que completa afirmando que nessa diversidade racial também se criou uma relação de amizade muito bonita desses três personagens.
Ao vislumbrar um futuro com maiores oportunidades para artistas do Norte e do Amazonas, Adanilo cita o acolhimento de sua ancestralidade como aliado. “Estamos mais preocupados com a nossa identidade, nossas questões, nosso jeito de ser, com a gente mesmo. A nova geração de artistas que vem chegando já estão mais ligados nisso, já sabem que a gente precisa olhar pro nosso entorno, as culturas, as artes, a vida, a natureza, tudo que nos cerca, é importante deixar isso se refletir no seu trabalho”, indica.
“Me vejo muito privilegiado de fazer parte dessa nova geração de atores e atrizes indígenas, de pessoas do norte, do Amazonas, a gente faz parte de um momento diferente das artes no mundo, eu diria, que é isso da representatividade, da força das nossas palavras e corpos e agora isso está explícito como potência. Me sinto honrado de fazer parte disso, da arte indígena brasileira, arte indígena feita na Amazônia”, finalizou o ator.