Um projeto inédito do Ministério das Mulheres pretende implantar lavanderias públicas de uso gratuito em diferentes cidades brasileiras em parcerias com prefeituras, governos estaduais ou representantes de outros entes federados. O edital para apresentação dos projetos está aberto até o próximo dia 15 de novembro.
Além de oferecer espaços para lavagem gratuita de roupas, o projeto tem foco na divisão sexual do trabalho. Por isso, além do espaço e do maquinário, as lavanderias comunitárias deverão desenvolver atividades formativas em temáticas sobre a economia feminista e temas próximos. Os detalhes podem ser conferidos no edital do programa.
A iniciativa prevê a construção de espaços com máquinas de lavar e secar nas cidades onde o poder público se mostrar interessado.
A construção ou reforma dos espaços e instalação das máquinas ficará a cargo do governo federal, enquanto prefeituras e governos deverão arcar com a manutenção e oferta de produtos para lavagem. O edital tem etapas até o fim do ano, e a implantação das lavanderias começará em 2024.
Neste primeiro edital, o projeto é considerado piloto. O orçamento previsto de R$ 2,6 milhões deve ser suficiente para construir de cinco a seis lavanderias em diferentes estados do país.
Ao Brasil de Fato, a Secretária Nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados do Ministério das Mulheres, Rosane da Silva, disse que o objetivo é buscar mais recursos do orçamento para ampliar a iniciativa no próximo ano.
“A gente acredita que vamos mostrar para a sociedade brasileira que esse é um instrumento importante, que além de liberar o tempo das mulheres, também vai diminuir o custo de vida das famílias. Hoje manter uma máquina de lavar em casa não é tão barato, tem todo o consumo da energia. Máquinas com tecnologia mais avançada acabam sendo mais caras e tendo consumo de energia maior”, pontuou.
O projeto surgiu a partir de uma discussão com representantes de dezenas de organizações, em iniciativa coordenada pelo próprio Ministério das Mulheres e pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), para elaboração de uma Política Nacional de Cuidados.
O tema do trabalho de cuidado, que ganhou espaço no debate público após ser escolhido como tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, é alvo de discussões dentro de diferentes instâncias do governo. A sobrecarga vivida pelas mulheres, causada também pelos impactos do trabalho doméstico, é algo reconhecido formalmente.
“Depois do tema da redação do Enem, esse assunto de fato ganhou uma visibilidade bem importante na sociedade brasileira. A gente acredita que a educação é um pilar importante para a gente discutir o que são as relações, o que é a divisão sexual do trabalho, e a necessidade de ter esse debate público com a sociedade brasileira. Os dados, as pesquisas, as matérias que têm saído mostram o quanto as mulheres estão sobrecarregadas”, destacou Rosane.
A secretária explica que já há experiências pontuais de lavanderias públicas pelo país, mas que muitas vezes há cobrança pela utilização do espaço. A proposta, desta vez, é que o poder público ofereça tudo gratuitamente, inclusive os produtos como sabão e amaciante. E, mais que isso, fazer com que as lavanderias sejam espaços coletivos usados não apenas por mulheres.
“Nossa ideia é incentivar que os homens também possam usar esse espaço público, como forma de a gente dividir as responsabilidades familiares, as tarefas domésticas. Que os homens também se responsabilizem pelo cuidado com a roupa da família, e que esse seja um instrumento de fato de uso público, sem nenhum custo para quem estiver usando”, resumiu.
Do Brasil de Fato