Empinar papagaio e competir no ar é uma tradição na infância brasileira. Mas o uso de componentes cortantes, como a chamada linha chilena e o cerol, acaba transformando a brincadeira em fator de risco de lesões e até morte.
Nas últimas semanas, notícias sobre estragos causados por linhas de pipas com cortantes se espalharam pelo Brasil. No Rio de Janeiro, um motociclista morreu na zona Norte depois de ser atingido por uma linha chilena. Dias depois, uma criança de 9 anos sofreu um corte profundo na perna. Já em Presidente Prudente (SP), uma motociclista sofreu um corte na boca.
Apesar de proibido, o uso de linha chilena e do cerol para empinar pipas ainda é comum e faz muitas vítimas, algumas fatais. Pedestres, ciclistas e motociclistas estão particularmente vulneráveis, já que podem entrar em contato com a linha sem estar cientes do perigo iminente.
O que é a linha chilena e o Cerol?
A linha chilena é feita com linha de algodão, mas, diferentemente do cerol, composto de cola e vidro moído, esta tem a mistura do óxido de alumínio e pó de quartzo, que são substâncias mais cortantes.
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBM-AM), a época do ano de muito sol e pouca chuva torna as cidades um ambiente propício a soltar papagaio, o que aumenta os riscos de acidentes.
“O poder de corte da linha chilena é altíssimo, e as pessoas usam tubos muito grandes, o que faz o papagaio ir numa distância muito maior. Quando a pessoa corta o outro, e acaba quedando o papagaio, a linha fica solta numa distância muito grande, e é exatamente quando o transeunte, quando o motociclista passa. Essa linha está correndo depois de o papagaio quedar, cortando todos que estão passando.”
Coronel Menezes, comandante dos Bombeiros de Manaus
Proibições
Uma lei municipal aprovada em 2015 pelo prefeito da época, Arthur Neto, proíbe o uso de cerol, da linha chilena de óxido de alumínio e silício ou de qualquer outro material cortante em linhas ou fios usados para empinar/soltar pipas, papagaios ou similares assim como nas rabiolas das mesmas, sob pena de multa de R$134,77 para cada conjunto de material apreendido.
Em 2011, o Projeto de Lei 402/2011, de autoria do deputado federal Junio Amaral (PSL-MG), propunha alteração no Código Penal para tipificar como crime a utilização de linhas cortantes com cerol ou assemelhadas em vias públicas. Somente em dezembro de 2020 o projeto voltou a ser discutido na Câmara.
Em agosto de 2023, o deputado Coronel Talhada (PP-SP) apresentou novo PL, que propõe acrescentar parágrafo ao art. 132 do CP, para criminalizar a fabricação, comercialização, distribuição, posse, depósito, importação e uso.
Como se prevenir?
O Comandante dos Bombeiros orienta a população que, em caso de encontro com linhas cortantes, o recomendado é não tentar puxar ou alcançar com a mão.
“Se ver uma linha de papagaio na sua frente, de qualquer tipo, não tente pegar com a mão, porque a pessoa que está soltando papagaio provavelmente está encolhendo (puxando) a linha. O motociclista, quando passar perto da linha, pare imediatamente, ou coloque as antenas de proteção.”
Coronel Menezes, comandante dos Bombeiros de Manaus
As antenas de proteção, conhecidas popularmente como antenas corta-pipas, são colocadas nas motocicletas com o objetivo de segurar a linha em caso de encontro com o motorista. Cada antena custa, em média, de R$ 25 a R$ 40.
“Em caso de emergência, ligue 193. Nós temos unidades de resgate e ambulâncias espalhadas por toda Manaus. Estaremos à sua disposição para dar o melhor atendimento com os nossos bombeiros militares, e para conduzi-lo até o hospital mais próximo.”
Coronel Menezes, comandante dos Bombeiros de Manaus