Um apagão afetou estados de todas as regiões do Brasil na manhã desta terça-feira (15/8), deixando cerca de 30 milhões de pessoas sem luz. Foi o maior apagão desde 2018, quando parte do norte, nordeste, sul e sudoeste ficaram sem luz.
Como ocorreu o apagão?
De acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS), às 8h31, houve um incidente no Sistema Integrado Nacional (SIN) nas regiões Norte e Nordeste que levou ao acionamento de um mecanismo de segurança que cortou a ligação com os sistemas do Sul e Sudeste.
O resultado foi um corte de 18.900 MW de carga — o equivalente a 29% do total.
Esse procedimento de corte de cargas – conhecido como Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac) – acontece de forma automática quando alguma ocorrência é identificada no SIN e ocorre para proteger o sistema elétrico de danos maiores.
Quantos estados foram afetados?
Todos os estados e o Distrito Federal foram afetados com exceção de Roraima, que não está conectada ao SIN.
A energia foi totalmente restabelecida?
Segundo o ONS, a normalização das cargas da região Sul foi concluída às 9h05min e nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, às 9h33min. O fornecimento de energia foi totalmente normalizado no Brasil às 14h49min.
O que causou o apagão?
Ainda não está claro qual foi o motivo que levou ao apagão. No entanto, é provável que haja mais de uma origem, dado que o sistema elétrico brasileiro trabalha com o critério n-1, o que garante redundância. Ou seja, quando ocorre uma interferência em algum ponto, há uma alternativa para evitar a interrupção no suprimento de energia.
Em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (15/8), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que um dos motivos que levou à perda de fornecimento foi uma sobrecarga de energia em uma linha de transmissão no Ceará — a linha e a concessionária responsável não foram reveladas.
Um pico de geração eólica registrado no Nordeste pouco antes do apagão pode ter levado a uma variação de frequência que causou a necessidade de interromper a transmissão entre as regiões. “Houve um excesso de geração entrando no sistema que levou ao desligamento, o que na verdade foi positivo, para evitar que houvesse perdas de mais subestações”, explica Clarice Ferraz, economista e diretora do Instituto Ilumina.
No entanto, segundo Silveira, apenas este evento não poderia ter causado o apagão, por conta da redundância do sistema. Ele afirmou que houve um outro evento que ainda não foi identificado pelo ONS.
De acordo com o ministro, não se sabe se esse outro evento teria motivação exclusivamente técnica ou se pode ter sido causada por falha humana ou propositalmente. Silveira afirmou que enviaria ofício para Ministério Público, Polícia Federal e Abin para apurar eventual ato criminal.
O ministro não explicou qual foi a sobrecarga ocorrida no Ceará.
O ONS informou que dará uma explicação completa sobre o ocorrido em até 48 horas.
Por que as regiões são interligadas?
Especialistas explicam que é justamente a interligação nacional que garante maior flexibilidade e complementaridade no suprimento de energia no país. Isso evitou, por exemplo, com que a seca que ocorreu no Sul e Sudeste em 2021 levasse a um apagão, pois as usinas eólicas conseguiram compensar a menor geração hidrelétrica.
O que poderia ter sido feito para evitar o incidente?
Analistas apontam que é importante a preocupação com o planejamento da expansão do sistema elétrico, sobretudo num momento de expansão das fontes de geração renováveis, que são intermitentes, ou seja, dependem de condições climáticas para gerar energia.
“O sistema tem que ser feito sob medida, tem que ter equilíbrio entre oferta e demanda, e é preciso integrar isso tudo da forma mais barata e limpa possível”, diz Ferraz do Instituto Ilumina.
Fonte: EPBR