A pandemia aumentou a incidĂȘncia de miopia no mundo e a tendĂȘncia nĂŁo foi revertida apĂłs o fim do perĂodo de confinamento. O dado, que vem sendo observado por especialistas, acaba de ser reforçado por um estudo feito em Hong Kong, um dos poucos a comparar o desenvolvimento do problema antes e depois da crise sanitĂĄria de Covid-19.
Pesquisadores chineses analisaram dados de mais de 20 mil crianças, com idades entre 6 e 8 anos, em trĂȘs perĂodos distintos: antes da pandemia da Covid-19, de 2015 a 2019; durante os perĂodos de confinamento em 2020; e apĂłs o fim das restriçÔes, em 2021. AlĂ©m dos exames oftalmolĂłgicos, foram consideradas informaçÔes sobre estilo de vida, tempo ao ar livre e horas de exposição Ă s telas.
ApĂłs um perĂodo de estabilidade na primeira avaliação, a incidĂȘncia de miopia aumentou em 28,8% em 2020 e 36,2% em 2021. O tempo dedicado a atividades ao ar livre foi menor em 2020, como era esperado, mas permaneceu baixo em 2021. Apenas o tempo de uso de dispositivos eletrĂŽnicos apresentou uma pequena reversĂŁo, ou seja, houve uma redução no tempo de exposição Ă s telas apĂłs o fim do ensino Ă distĂąncia. Os resultados indicam que, apĂłs o perĂodo de lockdown, a prevalĂȘncia de miopia foi maior do que antes da pandemia, entretanto, o estilo de vida nĂŁo retornou aos nĂveis prĂ©-Covid.
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A miopia ocorre por fatores genĂ©ticos, que nĂŁo podem ser modificados, e ambientais, que podem ser controlados, explica Ian Curi, membro titular do conselho fiscal da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, chefe dos setores de Estrabismo e Oftalmologia PediĂĄtrica do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Filhos de pais ou mĂŁes mĂopes tĂȘm trĂȘs vezes mais risco de desenvolver o problema. Se os dois forem portadores, o risco para a criança Ă© seis vezes maior.
Estudos mostram que o uso excessivo da visĂŁo de perto, com aparelhos eletrĂŽnicos portĂĄteis como tablets e celulares, favorece o aparecimento da miopia. Por outro lado, ficar pelo menos duas horas por dia exposto Ă claridade natural do dia parece ter um efeito protetor.
O aumento da incidĂȘncia de miopia tem sido observado em todo o mundo nas Ășltimas dĂ©cadas, sendo mais pronunciado em paĂses asiĂĄticos. Em 2020, 30% da população era mĂope, com 4% apresentando alta miopia. Estima-se que atĂ© 2050, metade da população mundial serĂĄ mĂope, e 10% terĂŁo graus elevados da condição. Na AmĂ©rica Latina, o percentual de mĂopes aumentou de 15% em 2000 para 32% em 2020, e espera-se que chegue a 53% em 2050.
Para minimizar os riscos de desenvolver esse problema, Ă© essencial estimular a prĂĄtica de lazer e atividade fĂsica em ambientes externos e reduzir o tempo de exposição Ă s telas. Os especialistas tambĂ©m recomendam que a primeira visita ao oftalmologista para crianças saudĂĄveis ocorra entre 6 meses e um ano de idade, com uma nova avaliação entre os 3 e 5 anos. A partir daĂ, o mĂ©dico estabelecerĂĄ a periodicidade das consultas. Atualmente, existem tratamentos para estabilizar ou retardar a progressĂŁo da miopia, mas o diagnĂłstico precoce Ă© fundamental para o sucesso dessas abordagens.
Da AgĂȘncia Einstein