Uma nova alternativa para o controle da malária na região Norte do Brasil é o objetivo central do projeto coordenado pela doutora em ciências biológicas, Rosemary Roque, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Nos resultados preliminares dos estudos, duas bactérias geneticamente modificadas apresentaram potencial que pode ajudar a interromper a cadeia de transmissão da doença transmitida pelo mosquito-prego.
De acordo com a cientista, a pesquisa analisou, na fase inicial, centenas de bactérias isoladas e sequenciadas geneticamente. Após isso, foram selecionadas espécies, que não causam doenças aos seres humanos, para o aprofundamento dos estudos de controle da malária.
“Estas bactérias foram submetidas ao processo de transformação genética com plasmídeos (moléculas de DNA que possuem a capacidade de se replicar de maneira independente). Duas bactérias conseguiram adquirir esse plasmídeo após a transformação genética e foram utilizadas em testes preliminares de transmissão através do ciclo de vida de uma população de Anopheles darlingi, coletada em campo”, explicou Rosemary Roque.
Técnica de combate
O Anopheles, citado pela pesquisadora, é o nome científico do inseto que transmite malária aos humanos, conhecido popularmente como mosquito-prego. A doença só pode ser transmitida pela fêmea do mosquito e quando esta estiver infectada por protozoários do gênero Plasmodium.
Com isso, a pesquisa visa analisar em profundidade o potencial que algumas bactérias têm de persistir no ciclo de vida do mosquito ao longo de gerações, afim de utilizá-las geneticamente modificadas, com genes antiparasitários, para bloquear o desenvolvimento do protozoário no intestino do mosquito infectado pelo parasita. E, assim, neutralizar e interromper a cadeia de transmissibilidade da doença.
“Para a sociedade, os impactos deste trabalho serão bastante positivos, uma vez que buscamos desenvolver novas ferramentas para o controle da malária, onde poderão ser agregadas às demais técnicas empregadas para o controle da doença na região amazônica, o que beneficiará diretamente as comunidades que vivem em locais de risco de transmissão e que poderão ter uma melhor qualidade de vida”, argumentou.
Além disso, diversos impactos positivos de âmbito tecnológico também serão conquistados por meio do estudo, entre os quais, o domínio de técnicas de engenharia genética para tornar as bactérias selvagens em potenciais armas contra diversos parasitas causadores de doenças em humanos.
Internacionalização
Iniciado no segundo semestre de 2021, o projeto é desenvolvido com o apoio de 18 pesquisadores, que se dividem nas diversas etapas do estudo, desde a coleta e manutenção dos mosquitos até o sequenciamento genético das bactérias. A pesquisa deve ser concluída no primeiro semestre de 2023.
Entre as instituições representadas no projeto estão: pesquisadores do Inpa, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), além de instituições de ensino e pesquisa de status internacional, entre as quais, a Universidade de Uppsala, na Suécia, e a Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
Apoio
A pesquisa recebe investimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), via Programa de Apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação em Áreas Prioritárias para o Estado do Amazonas, edital nº 010/2021.
O objetivo do programa é apoiar propostas de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, ou de transferência tecnológica, nas diferentes áreas do conhecimento, coordenadas por pesquisadores residentes no estado do Amazonas.
Fotos: Rosemary Roque-Arquivo pessoal