Este mês é realizada a campanha Junho Violeta. Criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2006, a ação tem o objetivo de alertar a população para os diferentes tipos de violência praticados contra a pessoa idosa.
No Brasil, segundo dados disponibilizados pelo Disque 100, entre 2019 e 2020, aumentou em 53% o número de denúncias de violência cometida contra idosos. Segundo o mestre e professor do curso de Psicologia da Faculdade Santa Teresa, Bruno Rudar, a convivência social restrita entre membros de uma mesma família, provocada pela pandemia de Covid-19, contribuiu para o incremento significativo no número de casos. Entre os vários tipos de violência, destacam-se a psicológica, com ou sem abuso financeiro e praticadas, em sua maioria, por pessoas próximas do idoso.
O professor ressalta que, além desses tipos de violência, existem outras sutis que acontecem no dia a dia e são veladas, como é o caso do idoso ser sempre questionado e colocado em situação de dúvida quando se trata dos seus desejos, seja de projetos ou relacionamentos amorosos, por exemplo. “Não é novidade na nossa sociedade que as representações sociais sobre a velhice são carregadas de conotações negativas. Quando o assunto é sexualidade, o imaginário social considera a pessoa idosa como desprovida de desejos e vida sexual. Existe a ideia equivocada de que, à medida que se envelhece, as paixões desvanecem. O que não faz nenhum sentido”, disse.
Bruno Rudar destaca que, especialmente no Brasil, por conta de padrões socioculturais, em que os filhos continuam residindo com os pais mesmo adultos, é comum que não vejam com bons olhos quando os pais expressam algo de suas vidas íntimas. “Duas pessoas idosas de mãos dadas ou sorrindo uma para outra, a sociedade acha fofo. Já dois idosos se beijando ou transando, as reações, na maioria das vezes, é de repulsa. Um exemplo rotineiro: o caso de pais e mães divorciados, viúvos, solteiros que sofrem grande resistência por parte da sociedade, principalmente dos filhos, quando corajosamente se permitem um novo relacionamento. Se a diferença de idade for grande, então, a questão é ainda pior”, acrescentou.
De acordo com Bruno Rudar, um outro tipo de violência bastante praticada sobre as pessoas idosas é a financeira. Essa, diz ele, não é velada, pois aparece de forma destacada dentre os tipos psicológicos de violência. “Essa é uma situação das mais difíceis de ser combatida, pois muitas vezes encontra amparo médico e legal. É óbvio que existem casos em que a senilidade e a idade avançada implicam em transformações nas relações de cuidado de si e do outro. Porém, isso precisa ser bem avaliado, porque ser idoso não significa o fim da vida, muito pelo contrário”.
Bruno Rudar frisa que, no consultório, é muito comum ouvir dos idosos reclamações sobre o que os filhos consideram ‘ser o melhor’ para os pais, esquecendo que os mesmos têm autonomia para decidir. “O prolongamento da vida, as possibilidades de um envelhecimento mais ativo e saudável é uma realidade nos dias de hoje. Cabe a todos manter o respeito nas relações. Convido todos, idosos ou não, a olharem de novo, com outros olhos se necessário, à velhice. A terceira idade, assim como qualquer outra, pode ser a melhor”, conclui.