A modernização da Zona Franca de Manaus (ZFM) e a adoção de um verdadeiro liberalismo industrial com maior flexibilização de regras deixarĆ” este modelo econĆ“mico menos vulnerĆ”vel Ć polĆtica de corte de impostos do governo federal, que afeta a competitividade das empresas locais. A ideia foi defendida pelo Industrial do Ano 2021, Gilberto Novaes, em evento promovido pela Federação das IndĆŗstrias do Estado do Amazonas (FIEAM), que estava suspenso hĆ” dois anos pela pandemia.
De acordo com o empresĆ”rio que controla a empresa de maquininhas de cartĆ£o Transire, o liberalismo defendido pelo MinistĆ©rio da Economia deve ser adotado de forma abrangente na polĆtica de incentivos fiscais da indĆŗstria, com a mudanƧa de pontuação do Processo Produtivo BĆ”sico (PPB).
O PPB determina etapas com maior ou menor grau de produção local e de inserção de componentes nacionais ou importados para que as empresas tenham direito aos benefĆcios fiscais.
Para Novaes, a flexibilização tornaria as empresas locais mais competitivas. āTemos que criar um liberalismo industrial, mudando o sistema de pontuação do PPB, que foi desenhado para favorecer empresas que nĆ£o geram empregos e superfaturam os seus componentes, comparando com o mercado internacional, pois somos obrigados a pagar os valores que eles definem e, automaticamente, inflacionam os preƧos de nossos produtosā, disse.
Ao comentar sobre os impactos da redução das vantagens da ZFM com o corte indiscriminado de impostos sem excluir os produtos desta Ć”rea de exceção, o empresĆ”rio ressaltou os prejuĆzos, e aproveitou para propor mudanƧas mais profundas no modelo local.
āTenho acompanhado os cortes dos impostos, que aos poucos vĆ£o minando a Zona Franca de Manaus. Particularmente, acho que isso seja muito ruim para todos nós, que vivemos e temos nossos negócios aqui. Mas Ć© importante lembrĆ”-los que a Zona Franca estĆ” com regras antiquadas e que nĆ£o refletem a realidade do Brasil atual e nos faz perder muito mais do que os cortes de impostos feitos pela equipe do MinistĆ©rio da Economiaā, alertou.
O Industrial 2022 tambĆ©m defendeu um sistema hĆbrido para modernizar a produção local e nĆ£o apenas o baseado somente nos produtos desmontados, o CKD (Completely Knock-Down, na sigla em inglĆŖs), junto com o SKD (Semi Knock-Down), ou parcialmente desmontado, ou seja, com maior ou menor valor agregado, com diferenƧas na composição das regras do PPB e para efeito de tributação.
āVenho hĆ” mais de 5 anos dizendo que a indĆŗstria tem que sair do sistema CKD, que nos obriga a comprar determinados insumos no Brasil. Enfrentamos valores superfaturados, falta de opƧƵes de fornecedores no Brasil e, muitas vezes, incompatibilidade tecnológica e isso impede que lancemos nossos produtosā, alertou.

Para Gilberto Novaes, as mudanƧas nessas regras tambĆ©m estimulariam empresas a aumentar as contrataƧƵes de pessoal. āTemos que migrar para um sistema hĆbrido, misturando CKD com SKD, deixando o processo flexĆvel e fomentando indĆŗstrias que realmente geram empregosā, disse.
Novaes cita a própria empresa para demonstrar a necessidade desse dinamismo para a economia local e do Brasil. āCom uma mudanƧa simples, posso exemplificar que a Transire dobraria de tamanho de um ano e isso refletiria em todos os industriais. SairĆamos de seis lanƧamentos de produtos por um ano para mais de 50ā. O empresĆ”rio destacou que a fornecedora de maquininhas de cartĆ£o democratizou o uso desses produtos no comĆ©rcio e acabou com duopólio de dĆ©cadas, alĆ©m de reduzir os encargos cobrados pelas gestoras de cartĆ£o.
Outra mudanƧa defendida Ć© em relação Ć aplicação obrigatória das empresas em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), conforme o faturamento, considerada ānocivaā, como estĆ”. āPara cada R$ 1 investido, daqui a 5 anos pode se tornar quase R$ 3 com muitas correƧƵes, encargos e tambĆ©m com a perda de benefĆcios fiscaisā, disse ao apresentar uma proposta. āA solução Ć© simples, basta a Suframa (SuperintendĆŖncia da Zona Franca de Manaus) analisar o projeto antes da empresa investir e aprovĆ”-lo sem risco de glosa para a indĆŗstriaā, defendeu.