O grande volume de chuvas observado nas bacias dos rios Negro e Solimões em dezembro do ano passado causou comportamento hidrológico atípico com aumento expressivo no nível das cotas esperadas para janeiro de 2022 em diversos rios, incluindo o Negro na orla da cidade de Manaus.
Segundo a Pesquisadora em Geociências do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Dra. Luna Gripp, responsável pelo Sistema de Alerta Hidrológico do Amazonas (SAH Amazonas), a atipicidade não para por aí. Os dados apontam que, ao contrário do ocorrido no mês anterior, as bacias captaram chuvas muito abaixo da média esperada em janeiro, o que ocasionou a redução da cota dos rios antes do período previsto.
Em Manaus, é normalmente observado que o rio Negro alcance sua cota máxima nos meses de junho ou julho e só então inicie o processo de vazante, quando começa a apresentar redução em seu nível. No ano passado, em 2021, o rio atingiu seu ponto máximo – 30,02 m – em 16 de junho, marca histórica para série de dados do município.
A partir de então, iniciou seu processo de vazante, apresentando redução diária de cotas até o dia 05 de novembro, quando voltou a subir, iniciando o atual processo de cheia. Esse ano, excepcionalmente, a cota do Negro apresenta diminuição no nível nos meses de janeiro e fevereiro. Desde o dia 19 de janeiro o nível do rio desceu 58 cm.
A pesquisadora explica que, apesar de Manaus ser banhada pelo rio Negro, o nível do rio no município não depende apenas da chuva que ocorre em sua bacia, mas também em toda a bacia do Solimões.
“Isso ocorre, pois os rios Negro e Solimões se encontram na formação do rio Amazonas, bem próximo à cidade, no fenômeno conhecido como “Encontro das Águas”. Nessa região, é como se o rio Solimões formasse uma barreira que pode acentuar, ou desfavorecer, o escoamento do rio Negro. Assim, quando o nível do rio Solimões apresenta uma redução acentuada, como está ocorrendo esse ano, a tendência é que o nível do rio Negro também apresente redução.
O efeito é observado não apenas em Manaus, mas em todos os municípios banhados pelo rio Amazonas e suas proximidades, como Itacoatiara, Parintins, Careiro da Várzea, Careiro Castanho, entre outros”, esclarece a pesquisadora destacando a importância do comportamento na bacia do rio Solimões em relação ao rio Negro.
A doutora ressalta ainda que, quando se trata do comportamento hidrológico dos maiores rios do mundo (Solimões-Amazonas e Negro), as variações em seus níveis não podem ser explicadas pelas chuvas que ocorrem apenas em um município específico.
“A chuva que ocorre em Manaus, por exemplo, não é suficiente para explicar os eventos hidrológicos observados no rio Negro. É sempre necessário levar em consideração as chuvas que ocorrem ao longo de toda a sua bacia de drenagem, bem como as variações dos níveis dos grandes rios nas proximidades”, frisou a hidróloga.
De acordo com o monitoramento realizado pelo SGB observa-se uma recuperação do nível dos rios na cabeceira do rio Solimões, efeito da regularização da precipitação de chuvas aguardadas para a época. O município de Tabantinga, localizado na entrada do Solimões, no Brasil, é usado como indicativo do que vai ocorrer nas regiões localizadas mais ao centro do estado do Amazonas.
A cota do rio no município voltou a subir em meados de janeiro, o que mostra que teremos em breve uma estabilização do nível dos rios e a retomada de crescimento que é esperada para os meses de fevereiro e março.
O primeiro “Alerta de Cheias Manaus” tem a data provável de 31 de março de 2022. O evento antecipa a magnitude da cheia ao menos 75 dias antes do seu pico máximo esperado, habilitando os órgãos compotentes a tomarem medidas de contenção de danos para a população e a cidade de Manaus.