A Palmhaste, instrumento que permite a colheita segura de cachos com frutos como o buriti, açaí e tucumã, e qualquer outra espécie de palmeiras com até 18 metros de altura, é uma das ferramentas criadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) para facilitar a vida de quem trabalha na colheita desse tipo de fruto.
O equipamento foi criado pelos servidores do Inpa Afonso Rabelo e os ilustradores botânicos Gláucio Belém e Felipe França, para colher cachos de todas as espécies de palmeiras. Entre as vantagens do instrumento, o técnico especializado em taxonomia de Arecaceae (palmeiras) e fruteiras nativas da Amazônia destaca a redução dos desperdícios de frutos e, consequentemente, aumento das ofertas para o mercado consumidor.
Outra vantagem da nova tecnologia é evitar o desgaste físico excessivo, ataques de animais peçonhentos e acidentes de trabalhos com os coletores de palmeiras, que escalam as árvores.
“O uso da Palmhaste pode promover geração de renda e melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais e extrativistas, sobretudo, da Amazônia, e proteger contra supressão de todas as espécies de palmeiras que possuem porte muito elevado, ou que são tortuosas, grossas, espinhosas e difíceis de serem escaladas ou coletadas pelos métodos tradicionais”, comenta Rabelo.
A ferramenta é constituída por 13 tubos de alumínio naval de 1,50 metro de comprimento cada. Para as conexões dos tubos e para que a ferramenta alcance as alturas desejadas nas palmeiras, foram inseridos na base de cada tubo de alumínio naval, seis fios de roscas internas, e para efetivar as conexões entre os tubos, foram cravados nas extremidades desses tubos de alumínio, tubos maciços de alumínio com roscas externas de seis fios.
Na extremidade superior da ferramenta, estão cravadas duas foices em uma barra de náilon, sendo uma Foice Tipo Ronca para ser usada em colheitas dos cachos de palmeiras com pedúnculos grossos, e outra Foice Tipo Gavião para colheitas dos cachos de pedúnculos finos.
O acessório para aparar a queda dos cachos é constituído por uma lona plástica encerada de polietileno impermeável à prova d’água e medindo 3×3 metros. Os materiais que formam a ferramenta são facilmente encontrados no mercado.
Reconhecimento
A Palmhaste foi certificada como uma tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologias Sociais (2019) e está registrada na Rede SDSN, uma Plataforma de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. Além disso, recebeu o 1°. lugar no Prêmio Professor Samuel Benchimol (2019), na categoria de projetos para desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Mais recentemente, a tecnologia tesoura podadora entrou para o portfólio de produtos e processos da categoria Know how (não patenteada) disponível para negociação e licenciamento. A tecnologia está em fase de transferência, sem exclusividade.
Processamento e beneficiamento do buriti
As palmeiras de buriti (Mauritia flexuosa L. f.) são muito produtivas, frequentes e abundantes na natureza. Os frutos caem espontaneamente dos cachos já maduros e não precisam de amadurecimento de pós-colheita, todavia, a colheita desses frutos é considerada uma atividade antieconômica, pois apenas uma quantidade inexpressiva de frutos pode ser colhida diariamente.
Além disso, podem estar contaminados pelo tempo de exposição ao solo e necessitam de cuidados especiais durante o manuseio, embalagem e transporte.
Para tratar do assunto, Rabelo publicou em conjunto com Felipe França a cartilha “Buriti: coleta, pós-colheita, processamento e beneficiamento dos frutos de buriti (Mauritia flexuosa L. f.)”, disponível de forma gratuita para download no repositório digital do Inpa.
A publicação traz informações sobre potencialidades econômicas, nutricionais, funcionais e sociais do buriti e as ferramentas úteis para a coleta dos cachos, pós-colheita, processamento e agregação de valor econômico aos frutos.
Entre os métodos para a extração da polpa do buriti (mesocarpo) expostos na cartilha, há a separação manual das polpas das sementes com o uso de faquinha de aço inoxidável. A superfície usada para a extração e as bandejas para recolhimento das polpas também devem ser de aço inoxidável. A polpa extraída pelo processo manual pode ser processada imediatamente ou embalada a vácuo em sacos plásticos resistentes, e conservada em refrigeração a -18ºC por até dois anos.
Produtos à base de buriti
Criativo e determinado, trabalhou na criação de produtos inéditos e reinventou mais de 100 receitas envolvendo bebidas alcoólicas, não alcoólicas e pratos que compreendem refeições doces e salgadas, utilizando como matéria-prima principal a polpa concentrada do buriti. O trabalho paralelo na iniciativa privada disponibiliza ao públicos vários produtos.
Além dos produtos inovadores, a polpa e o óleo do buriti podem ser utilizados pelas indústrias de cosméticos para fabricações de cremes hidrantes, esfoliantes, filtros solares, óleos corporais, sabonetes líquidos, xampus e condicionadores, dentre outros, e pelas agroindústrias para a produção de bebidas, doces, picolés, polpa liofilizada, sorvetes, sucos e xaropes concentrados.