Um grupo formado por 11 pessoas com deficiência visual se qualificou no curso de massoterapia do Senac AM, na unidade do Centro. A turma contou com 6 cegos total e outros cinco com baixa visão. Os alunos, que fazem parte da Associação dos Deficientes Visuais do Amazonas (Advam), buscavam novas oportunidades de trabalho e encontraram nas massagens uma trilha interessante.
A ideia de reunir uma turma com deficientes visuais surgiu há muitos anos, no ano 2000, conforme o professor do curso de massoterapia do Senac AM, Nazo Ferreira. Apesar do esforço, naquela época não foi possível reunir a turma, no entanto, a vontade de fazer acontecer permaneceu. Só em 2021, o Senac em parceria com a Advam conseguiu o feito.
“Esperamos a pandemia dá uma aliviada, no ano passado, e fiz a visita novamente e encontrei mais pessoas interessadas. Incluímos também pessoas que enxergam, são os chamados videntes. A partir daí a associação selecionou todas as pessoas, fez o contato com a supervisão e o Senac materializou o projeto. Foi uma surpresa muito grande. O cego sente mais do que as pessoas que enxergam, ele tem uma sensibilidade aguçada ao extremo”, destaca.
A turma inclusiva formada por deficientes visuais e os “videntes” fez toda a trilha do curso e aprendeu técnicas como drenagem linfática, massagem relaxante, massagem terapêutica e massagem voltada para o atleta. O grupo também consegue trabalhar com ventosa, bambu, pedras e com técnicas, como: shiatsu, zen shiatsu e shiatsu dos pés descalços.
Além da parte técnica, muitos ganharam um novo ofício, é o caso da Naná Fernandes, de 63 anos. Ela sofreu um descolamento de retina irreversível devido problema com a diabetes e perdeu a visão há 10 anos. Antes, Naná trabalhava na área de Marketing, e desde então buscava uma nova ocupação que fizesse sentido para ela.
“Participar foi uma oportunidade única, era meu sonho fazer um curso desse, ainda mais sendo gratuito. Foi muito benéfico para mim, me empenhei demais e já estou obtendo resultados. Estou atuando em um salão. Vi na massagem uma oportunidade. Eu vim encontrar algo que ocupasse mais que meu tempo, queria algo que me desse um propósito”, relata Naná.
Diferente da Naná, que nunca tinha tido contato com a massagem antes do Senac, o Marinaldo Souza, de 42 anos, já tinha feito um curso na área, porém, queria aprender mais para se posicionar no mercado de trabalho e atrair mais clientes. Ele ficou sem visão aos 23 anos, após adquirir a “bactéria do gato”.
“Essa profissão veio mais para acrescentar na minha renda familiar, sempre pedi a Deus um trabalho que fosse bom para mim e estou abraçando com unhas e dentes. Fiz um curso em 2017 em outra instituição e aqui aprimorei. Já faço atendimentos em casa, a domicílio, em eventos. Pretendo seguir com esse negócio, se for a vontade de Deus, vou seguir com essa carreira. Pretendo continuar a estudando, inclusive, já estou matriculado em um curso técnico”, conta Souza.
Conforme o professor Nazo, o Senac em parceria com a Advan pretende dar continuidade ao trabalho com a oferta de novas turmas com cursos inclusivos. Além do curso de massagista, outros cursos estão sendo ajustados para atendimento desse público. Em todos as formações, os alunos são incentivados a empreenderem e, nesse público em específico, o estímulo é ainda maior para que se tornem profissionais autônomos.
“Eu avalio de uma forma muito positiva (o curso). Aqueles que não sabiam fazer massagem, conseguiram aprender a partir da voz, a partir da ajuda de um colega, a partir da ajuda do professo. Eu avalio que dá certo, pelas oficinas que fizemos a reposta de quem foi atendido pelos cegos é maravilhosa, eles relatam um descanso profundo, tenho certeza que eles têm um caminho muito bom nessa área”, finaliza Ferreira.
Senac no AM
Em nível nacional, o Senac é administrado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), hoje, gerida pelo amazonense José Roberto Tadros. Com 76 anos de atuação no Amazonas, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial está presente em Manaus e nas cidades de Manacapuru, Itacoatiara, Parintins, Tefé e Coari.